Cisticercose bovina: o que é e como tratar?

A Cisticercose Bovina é uma doença geralmente detectada nas linhas de inspeção do abate, sendo uma zoonose de grande importância para a saúde pública. Confira detalhes no texto a seguir!

Introdução

As verminoses são problemas sanitários muito frequentes nos rebanhos bovinos, ocasionando uma série de prejuízos produtivos e consequentemente econômicos, podendo levar os animais à morte. A ocorrência é mais intensa em épocas mais secas do ano, quando as pastagens estão com deficiência de nutrientes, levando os animais à perda de peso e menor resistência imunológica. Nesse âmbito das verminoses, esse texto tratará especificamente sobre a Cisticercose em bovinos, uma zoonose, causa muito frequente de condenações no exame post mortem de carcaças e órgãos em abatedouros frigoríficos. E que prejudica a comercialização dos produtos ao mercado externo e aumenta gastos com tratamento térmico da carne (FUKUDA, 2003; ROSSI et al. 2014).

O que é a Cisticercose Bovina?

Inicialmente é importante destacar que existe o complexo Teníase-Cisticercose composto por duas doenças diferentes, provocadas por uma mesma espécie de cestódeo em fases distintas do ciclo biológico. A Teníase consiste na presença das formas adultas da Taenia solium (em suínos) ou Taenia saginata (em bovinos) no intestino delgado dos hospedeiros. Já a Cisticercose é estabelecida pela presença de Taenia saginata ou Taenia solium no estágio larvar, nos tecidos dos hospedeiros que ingeriram as tênias (PAWLOWSKI et al., 2005).

De forma específica, a Cisticercose bovina é uma zoonose de amplo impacto na saúde animal e na saúde pública, sendo caracterizada pela presença de cistos na musculatura, órgãos e cérebro, contendo a forma larval da Taenia saginata (chamada de Cysticercus bovis), tendo como hospedeiro intermediário os bovinos e como hospedeiro definitivo o homem. No ciclo, o homem se contamina através da ingestão de carne bovina crua ou mal passada (que não tenha atingido 65°C), contaminada com cisticerco. Em contrapartida, os bovinos se contaminam a partir do consumo de água ou pastagens contendo ovos que chegaram ali através das fezes dos humanos contaminados. Geralmente são fezes defecadas ao ar livre, contendo ovos que são levados através do vento para o pasto e água dos rios (URQUHART et al. 1996; REY, 2013; BOWMAN, 2014). 

Ciclo Biológico

Fonte: Retirado do Comunicado Técnico – Alteração de tratamento das carcaças com achados de Cisticercose Bovina (Edição 28/2020).

Como identificar a doença?

A Cisticercose consiste em uma doença silenciosa, uma vez que não se manifesta clinicamente nos bovinos infectados. Desta forma, a enfermidade geralmente só é detectada quando os bovinos são abatidos, através da observação visual nas linhas de inspeção dos frigoríficos. Assim, sendo identificados cisticercos vivos ou calcificados a carcaça precisa passar por condenação ou por tratamento térmico, o que acaba gerando prejuízos ao produtor (FAMASUL; SENAR, 2021).

Como prevenir?

Para a prevenção da Cisticercose nos bovinos, algumas medidas se fazem necessárias, dentre elas: oferecer boas condições de higiene pessoal nas propriedades rurais, incluindo a ofertas de banheiros com fossas sépticas para que se evite a contaminação das pastagens; quanto aos animais, montar programas específicos de vermifugação e um calendário sanitário sob orientação do Médico Veterinário, oferecer água de origem conhecida em bebedouros periodicamente limpos e desinfectados (FAMASUL; SENAR, 2021).

Como tratar?

Em propriedades com histórico de cisticercose, o ideal é que os bovinos a serem abatidos recebam tratamento com Sulfóxido de Albendazol.  A JA disponibiliza o Albendathor Injetável, um anti-helmíntico à base de Sulfóxido de Albendazol, com ação sobre vermes adultos, larvas e ovos dos principais parasitos internos de bovinos, atuando inclusive sobre formas de difícil ataque como cistos (cisticercose) e fascíolas. Por ser um metabólito natural do Albendazol age prontamente sem sobrecarregar o metabolismo do hospedeiro. No caso da Cisticercose bovina, recomenda-se a administração de 1 a 2 mL para cada 40 kg de peso corporal, sendo de uma a três aplicações em intervalos de 30 dias à critério do Médico Veterinário.

Texto:

Juliana Ferreira Melo

Médica Veterinária / Jornalista

Referências

 

BOWMAN D.D. 2014. Helminths, p.137-148. In: Ibid. (Ed.), Georgis’ Parasitology for Veterinarians. 10th ed. Saunders Elsevier, Philadelphia. 477p.

 

CNA. Comunicado Técnico – Alteração de tratamento das carcaças com achados de Cisticercose Bovina. Edição 28/2020. Disponível em: https://www.cnabrasil.org.br/assets/arquivos/artigostecnicos/sut.cisticercose.comunicado.tecnico.05out2020.pdf. Acesso em: 22 de jul. de 2022.

 

FAMASUL; SENAR. Orientações – Cisticercose Bovina. 2021. Disponível em: https://senarms.org.br/sites/default/files/programa/Informativo%20Complexo%20Ten%C3%ADase-Cisticercose%20_2021_0.pdf. Acesso em: 22 de jul. 2022.

 

FUKUDA, RT. Contribuição ao estudo da epidemiologia da cisticercose bovina na região administrativa de Barretos. Aspectos ambientais e econômicos. [Tese]. Jaboticabal: Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias; 2003

 

PAWLOWSKI, Z. et al. Control of Taenia solium Taeniasis/cysticercosis: from research towards implementation. International Journal for Parasitology, v.35, n.11-12, p.1221-1232, 2005. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/ j.ijpara.2005.07.015>. Acesso em: 18 jun. 2010. doi:10.1016/j.ijpara.2005.07.015.

 

REY L. 2013. Parasitologia: parasitos e doenças parasitárias do homem nos trópicos ocidentais. 4ª ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro.

 

ROSSI G.A.M., Grisólio A.P.R., Prata L.F., Bürger K.P. & Hoppe E.G.L. 2014. Situação da cisticercose bovina no Brasil. Semina, Ciênc. Agrárias 35(2):927-938.

 

URQUHART G.M., Armour J., Duncan J.L., Dunn A.M. & Jennings F.W. 1996. Classe cestoda, p.104-110. In: Ibid. (Eds), Parasitologia Veterinária. 2ª ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 273p.

 

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