Como tratar complexo respiratório bovino

A pecuária bovina é de grande importância na economia nacional e ainda é exercida em grande parte no sistema tradicional de criação extensiva, criado solto em pastagens naturais ou cultivadas (TEIXEIRA, 2014). Entretanto, a cada dia que passa, há maior investimento dos pecuaristas em sistemas de criação intensiva, nos quais muitas vezes o gado é criado confinado, o que aumenta a susceptibilidade a determinados problemas sanitários (REZENDE, et al. 2014).

Dentre esses problemas, os respiratórios são os mais comuns em animais adultos nesse tipo de sistema de criação, ocorrendo o mesmo em bezerros até 9 meses de vida. Nesse contexto, a broncopneumonia é a enfermidade de maior destaque dentre todas as respiratórias, caracterizada pela inflamação dos bronquíolos, parênquima e pleura pulmonar, geralmente consequente a uma invasão por agentes infecciosos bacterianos ou virais (REZENDE, et al. 2014).

Existem alguns fatores que impactam no aumento da morbidade de enfermidades respiratórias.  O estresse decorrente do transporte e do agrupamento em lotes, faz com que haja aumento dos níveis de cortisol, depressão do sistema imunológico do animal e, consequentemente, maior susceptibilidade as doenças. Outro fator é a superpopulação, comum nesse sistema de criação que, induz o aumento nos níveis de umidade do ar e o incremento no tempo de sobrevivência dos patógenos (LAVAL, A, CARRAUD, A, FILLETON, R, 1994; GAVA, 1999).

Um grupo muito frequente de agentes responsáveis pelas broncopneumonias são as Pasteurellas spp, que embora façam parte da microbiota normal do trato respiratório superior de muitos bovinos, em situações propícias de estresse (transporte, superlotação e desmama de bezerros, por exemplo), conseguem proliferar e adentrar no trato inferior (que é naturalmente estéril), causando assim a enfermidade (GAVA, 1999). Um grande problema é que nem sempre esse acometimento é visível, podendo haver casos subclínicos, com disfunção pulmonar pequena ou inexistente, dificultando a identificação pelo pecuarista (LAVAL, A, CARRAUD, A, FILLETON, R, 1994).

Segundo pesquisas, 68% dos animais considerados sadios por meio da inspeção visual apresentavam acometimento pulmonar no abate, inclusive responsável por redução de aproximadamente 80g de ganho médio de peso por cabeça (GMD). Conclui-se então que a detecção visual não tem acurácia suficiente para diagnosticar os casos positivos, não sendo indicado o tratamento baseado apenas nesse tipo de diagnóstico (Wittum et al., 1996).

Assim sabemos que a aplicação de tratamentos eficaz para as afecções pulmonares é fundamental para o controle da enfermidade (Snowder et al., 2006, Timsit et al., 2011b) e que não é tão fácil fazer o diagnóstico assertivo dos animais doentes, sendo necessário lançar mão de uma forma de tratamento mais estratégica, principalmente naqueles no início da doença ou em casos subclínicos. A metafilaxia é uma das formas de tratamento que reduz os casos clínicos e subclínicos, além de consequentemente reduzir o impacto da enfermidade no ganho de peso.

Metafilaxia nada mais é que a utilização de um antimicrobiano de longa ação, em doses terapêuticas, injetável e destinado exclusivamente a um grupo de animais em situação de risco, para que não se estimule a resistência antimicrobiana (SLOMPO et al. 2017). A utilização desse tipo de medicação é altamente desejável na entrada do confinamento ou até mesmo em situações de surto da doença em bezerros, com destaque aos mantidos em instalações coletivas (Duff and Galyean, 2007; Vogel et al., 1998, Edwards, 2010, González-Martín et al., 2011).

A sugestão da JA Saúde Animal para o controle do complexo respiratório bovino é a utilização do Benzafort 12 Milhões. À base de Benzilpenicilina Benzatina, é o único antimicrobiano naturalmente de longa ação do mercado veterinário e mantém concentrações plasmáticas no organismo por aproximadamente 4 semanas, sendo a solução ideal para ser utilizada na entrada do confinamento. Mesmo havendo decréscimo importante dos casos de pneumonia com o uso de Benzafort 12 Milhões, nos casos de manifestação de casos clínicos agudos é necessário a utilização de Diclotril, potente antimicrobiano de ação imediata à base de Enrofloxacina associado a um anti-inflamatório.

 

Autores:

Prof. Dr. José Abdo Andrade Hellu – Médico Veterinário e Fundador da J.A Saúde Animal

M.V. Eduardo Henrique de Castro Rezende – J.A Saúde Animal

 

Referências bibliográficas:

GAVA, A. Pasteurelose em bovinos em confinamento. In: Encontro nacional de patologia veterinária, anais…1999.

COUTINHO, A.S. Mannheimiose Pneumônica Experimentalmente Induzida em Bezerros pela Mannheimia (Pasteurella) Haemolytica A1- Cepa D153: Achados do exame físico, hemograma e swabs nasal e nasofaringeano. 2004. 186p. Tese (Doutorado)- Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia-Universidade Estado Paulista, Botucatu.

LAVAL, A; CARRAUDA, A: FILLETON, R. Terapia Antibiótica e Doenças Respiratórias dos Bovinos. Schering Plough Veterinária, 1994.

Srikumaran, S., Kelling, C. L. & Ambagala, A. 2007. Immune evasion by pathogens of bovine respiratory disease complex. Animal Health Research Reviews, 8, 215-229.

Snowder, G. D., Van Vleck, L. D., Cundiff, L. V. & Bennett, G. L. 2006. Bovine respiratory disease in feedlot cattle: environmental, genetic, and economic factors. Journal of Animal Science, 84, 1999-2008.

Rice, J. A., Carrasco-Medina, L., Hodgins, D. C. & Shewen, P. E. 2007. Mannheimia haemolytica and bovine respiratory disease. Animal Health Research Reviews, 8, 117-128.

Wittum, T. E., Woollen, N. E., Perino, L. J. & Littledike, E. T. 1996. Relationships among treatment for respiratory tract disease, pulmonary lesions evident at slaughter, and rate of weight gain in feedlot cattle. Journal of the American Veterinary Medical Association, 209, 814-818.

Duff, G. C. & Galyean, M. L. 2007. Board-invited review: Recent advances in management of highly stressed, newly received feedlot cattle. Journal of Animal Science, 85, 823-840.

Edwards, T. A. 2010. Control methods for bovine respiratory disease for feedlot cattle. Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice, 26, 273-284.

TEIXEIRA, Jodenir Calixto. A TRAJETÓRIA DA PECUÁRIA BOVINA BRASILEIRA. 2014. Disponível em: https://revista.fct.unesp.br/index.php/cpg/article/view/2672/2791. Acesso em: 24 abr. 2020.

SLOMPO, Diego. Manejo do complexo respiratório bovino em confinamento: Revisão. 2017. Disponível em: http://www.pubvet.com.br/artigo/3732/manejo-do-complexo-respiratoacuterio-bovino-em-confinamento-revisatildeo. Acesso em: 24 abr. 2020.

REZENDE, Amanda Lima. PREVALÊNCIA DE DOENÇAS EM BOVINOS CONFINADOS NO MUNICÍPIO DE PARACATU, MINAS GERAIS. 2014. Disponível em: http://200.19.146.79/index.php/vetnot/article/view/37710/19845. Acesso em: 24 abr. 2020.

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