O artigo técnico aborda os principais conceitos, atualizações, formas de identificação, prevenção e controle relacionados com a mastite contagiosa, uma enfermidade de alta relevância devido ao grande impacto na produção de leite.
Introdução
Considerada mundialmente como uma doença de alto interesse econômico, a mastite gera grandes prejuízos nas propriedades produtoras de leite, sendo responsável por aproximadamente 38% da prevalência de doenças que acometem as vacas leiteiras. A transmissão ocorre principalmente devido à falta de boas práticas de higiene na rotina de ordenha (PERES NETO, 2011; FONSECA et al., 2021).
Os animais acometidos pela enfermidade têm uma redução significativa na produção, na qualidade do leite e se não forem tratados de maneira adequada, podem desenvolver a forma crônica da doença, podendo resultar na perda do quarto mamário. (CALIMAN et al., 2023). É importante salientar que a mastite surge a partir de múltiplos fatores, podendo ser desencadeada por traumas, agentes externos patogênicos, alérgenos, entre outros, sendo mais comum os de origem infectocontagiosas (COSER et al., 2012).
A doença pode ser classificada como mastite contagiosa ou ambiental, conforme os patógenos causadores. Além disso, sua manifestação pode ser considerada clínica, com sintomas aparentes da doença e quadros agudos ou superagudos; ou subclínica, quando não há alterações no leite e nem sinais de inflamação na glândula mamária, sendo possível identificar a doença somente por meio de testes específicos (COSER et al., 2012; LOPES et al., 2018; FONSECA et al., 2021).
Mastite Contagiosa
Os principais patógenos relacionados a mastite contagiosa são as bactérias Streptococcus agalactiae, Staphylococcus aureus, Staphylococcus coagulase negativae Corynebacterium bovis, que possuem predileção por se alojarem no interior da glândula mamária (COSER et al., 2012; OLIVEIRA et al., 2016; LOPES et al., 2018).
Esses microrganismos atingem os tecidos mamários internos, causando lesões no parênquima (alvéolos) da glândula mamária e nas células secretoras de leite. Diante disso, a fim de combater o agente causador da doença o sistema imune envia células de defesa, então como resultado observa-se um aumento do número de células somáticas/leucócitos e células de descamação do tecido glandular presentes no leite. Também há um aumento dos níveis de cloro, sódio e proteínas séricas, oriundos da lesão celular e maior permeabilidade vascular, com isso os níveis de lactose, gordura e caseína são diminuídos impactando diretamente na qualidade do leite (LEMOS, 2018; MASSOTI et al., 2019; CALIMAN et al., 2023).
A prevalência de mastite contagiosa é superior às demais classificações sendo mais recorrente na forma subclínica, onde há aumento do número de células somáticas presentes no leite que perdura por um longo período (MASSOTE et al., 2019).
Prevenção e Controle
Conforme mencionado anteriormente o manejo durante a rotina de ordenha exerce total influência na prevenção e na disseminação da mastite contagiosa (PERES NETO, 2011).
O controle baseia-se na adoção de boas práticas de higiene durante a ordenha das vacas. A utilização de pré e pós-dipping na desinfecção dos tetos, a higienização adequada das mãos do ordenhador, a desinfecção de teteiras e outros materiais de uso comum, impedem a disseminação da doença no rebanho (MASSOTI et al., 2019).
Outro ponto de extrema importância para a prevenção da mastite contagiosa é a realização da linha de ordenha, para que as vacas positivas para mastite contagiosa não contaminem as vacas sadias. A sequência correta para ordenhar as vacas deve seguir o seguinte padrão: devem ser ordenhadas primeiro as novilhas primíparas, em seguida as vacas mais jovens, vacas adultas que nunca tiveram mastite, as que já tiveram mastite e se recuperaram da doença e por último as vacas que estão com mastite, ordenhando primeiro os tetos saudáveis e posteriormente os afetados (ZAFALON et al., 2008; CAMPOS e LIZIEIRE, 1993; apud COSER et al., 2012).
Além da linha de ordenha, pode ser realizado o manejo de arraçoamento após a ordenha dos animais, com o objetivo de manter as vacas em pé até o fechamento completo do esfíncter do teto, prevenindo contra a entrada de sujidades. Além disso, também é possível prevenir a mastite através do tratamento na secagem das vacas leiteiras. O manejo da terapia de secagem é realizado em torno de 60 dias antes da data prevista do parto e consiste em cessar a ordenha do animal e, após antissepsia da região do esfíncter do teto, introduzir um antimicrobiano intramamário de longa ação, com o objetivo de tratar as mastites não tratadas durante a lactação e prevenir novas infecções. Em animais com mastite crônica, pode-se fazer também a terapia injetável conjunta com um antimicromiano de longa ação, com o objetivo de potencializar a ação antimicrobiana (FONSECA e SANTOS, 2001).
Diagnóstico
O diagnóstico precoce é fundamental para uma melhor chance de cura nos animais e contenção da doença no rebanho. O diagnóstico da mastite subclínica é realizado com testes rotineiros que apresentam reações visuais e que podem ser feitos na própria fazenda. Os testes mais comuns utilizados são California Mastitis Test (CMT) e a Contagem de Células Somáticas (CCS), que devem ser realizados periodicamente no rebanho para identificação e controle da mastite (ZAFALON et al., 2008; FONSECA et al., 2020).
Para um diagnóstico mais específico é importante encaminhar uma amostra de leite de cada teto afetado para o laboratório, e realizar a cultura e antibiograma para que seja escolhida a melhor base farmacológica para tratamento (FONSECA e SANTOS, 2001; LEMOS, 2018).
Embora a forma mais comum de apresentação da mastite contagiosa seja a subclínica, em alguns casos ela pode se apresentar na forma clínica, com os animais apresentando sinais, desde os mais brandos como grumos no leite até os mais significativos como dor, febre, anorexia e prostração (FONSECA e SANTOS, 2001; LEMOS, 2018; LOPES et al., 2018; MASSOTI et al., 2019).
Para o diagnóstico da mastite clínica é rotineiramente empregado o uso da caneca telada de fundo preto durante a rotina da ordenha, onde é possível observar grumos presentes no leite. Também é indicada a inspeção visual e palpação do úbere para observar qualquer anormalidade e sensibilidade podendo ser difusa ou focal (MASSOTE et al., 2019).
Tratamento
Quanto mais rápido for realizado o tratamento, melhor a chance de cura do animal. A terapia instituída consiste na aplicação de medicamentos intramamários e sistêmicos além de terapia suporte quando necessário (FONSECA e SANTOS, 2001; PERES NETO, 2011; CALIMAN et al., 2023). É importante priorizar a utilização de antimicrobianos que possuam boa penetração nos tecidos da glândula mamária, bons exemplos são os antimicrobianos da classe das cefalosporinas e beta-lactâmicos (RIBEIRO et al., 2016; apud CALIMAN et al., 2023).
O protocolo sugerido para o tratamento de animais acometidos por mastite contagiosa compreende a utilização da terapia intramamária com o Mastite Clínica VL® da JA Saúde Animal, uma associação de Amoxicilina, Clavulanato de Potássio e Prednisolona, proporcionando amplo espectro e intensa ação bactericida. A Amoxicilina é um antimicrobiano pertencente a classe dos Beta-lactâmicos que atua inibindo a síntese da parede celular das bactérias, o que causa a morte do agente. O Clavulanato de Potássio possui ação similar e sinérgica à Amoxicilina, potencializando a ação antibacteriana do produto, pois inativa de forma irreversível a enzima beta-lactamase, permitindo que os microrganismos se tornem sensíveis ao antimicrobiano. O Acetato de Prednisolona é um eficaz anti-inflamatório esteroidal, que age combatendo a dor, desconforto e a inflamação local do tecido mamário.
Associado a terapia intramamária, recomenda-se a terapia sistêmica com o antimicrobiano Cetofur® da JA Saúde Animal, à base de Ceftiofur, pertencente a classe das cefalosporinas de 3° geração. Esta molécula é relativamente nova e por isso apresenta maior eficácia no combate das infecções bacterianas. O Cetofur®, conta ainda com o cetoprofeno, um anti-inflamatório não esteroidal eficaz e seguro. Ele auxilia na redução da inflamação e melhor penetração do antibiótico nos tecidos, além de contribuir na recuperação do animal, aliviando dor e febre. Outra vantagem é a ausência de período de descarte de leite em vacas em lactação.
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Texto: Aline M. Carvalho (Médica Veterinária)
BIBLIOGRAFIA
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