Conheça detalhes sobre essa afecção que pode acometer os equinos durante todos os meses do ano, com destaque para os períodos chuvosos. Leia a seguir!
Introdução
Um mercado que movimenta mais de 30 bilhões no Brasil e emprega mais de três milhões de pessoas, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), a equinocultura apresenta grande relevância dentro do cenário agropecuário. Nesse contexto, algumas doenças despertam preocupação nos criadores, como por exemplo a Leptospirose, uma zoonose de distribuição mundial. Essa afecção é causada por bactérias do gênero Leptospira, sendo os sorovares mais comuns: L. pomona, L. icterohemorrhagiae, L, canicola, L. grippotyphos, L. sejroe, L. wolffi e l. hardjo (ELLIS, 1994; SWART et al., 1982 apud OLIVEIRA, 2018).
Como ocorre a transmissão?
A transmissão ocorre quando um animal sadio entra em contato com água contaminada com urina de animais acometidos pela Leptospira sp. A bactéria penetra no organismo do animal sadio através da mucosa, da pele ou em certos casos por inalação ou ingestão (RADOSTITS et al., 2002; HINES, 2007 apud NETA et al., 2016). Posteriormente, esse microrganismo passa por duas fases distintas da doença: a leptospiremia (fase de multiplicação do agente na corrente sanguínea e em vários órgãos) e leptospirúria (fase em que a bactéria permanece nos túbulos renais e é eliminada pela urina, de forma intermitente) (CAZELLA, 2012).
Quais os sinais clínicos e o diagnóstico?
Nos equinos, na maioria das vezes a Leptospirose apresenta caráter subclínico, o que é motivo de preocupação, afinal o agente pode ser disseminado no ambiente de forma despercebida através da urina de animais portadores que não apresentam manifestações clínicas (FERREIRA et al., 2008; LASTA et al., 2013; FARIAS et al., 2020 apud FERREIRA et al. 2021).
Todavia, a Leptospirose pode provocar uveíte, infecção generalizada da parte interna do globo ocular, que quando persistente ou recidivante pode promover a perda da visão por conta da atrofia da íris e da opacidade da córnea e do cristalino (COOK; HARLING, 1983 apud NETA, 2016). Nesses casos, os equinos geralmente apresentam fotofobia, lacrimejamento, conjuntivite, ceratite, hipópio e proliferação pericorneal de vasos sanguíneos. Os dois olhos podem ser afetados e as lesões podem levar o animal à cegueira. Éguas prenhes podem sofrer abortamento após o terceiro mês de gestação, com mais frequência após o sexto mês. Além disso, podem ocorrer natimortos ou o nascimento de potros fracos, que muitas vezes morrem nos primeiros dias de vida (RIET-CORREA et al., 2007).
O diagnóstico da Leptospirose nos equinos pode ser obtido através de vários métodos diretos e indiretos, sendo o Teste de Soroaglutinação Microscópica considerado padrão ouro e utilizado em várias investigações epidemiológicas da doença (RIBEIRO, 2015; OIE, 2014 apud CERQUEIRA, 2019).
Como prevenir e tratar?
Para a prevenção e controle da Leptospirose é necessário identificar quais animais são soropositivos, qual o sorotipo é predominante e os possíveis meios de transmissão (PINNA, 2011 apud CERQUEIRA, 2019). Desta forma, testes sorológicos de preferência na época seca (quando a transmissão é menor devido a pouca quantidade de água no solo) são importantes para evitar surtos, além disso, a vacinação também é uma alternativa preventiva, porém não elimina portadores (RIET-CORREA et al., 2007). Outras medidas eficazes incluem: o controle de roedores, que são portadores da Leptospira, nas áreas onde os equinos são alojados; a manutenção da limpeza das instalações; o fornecimento de água limpa para os animais; manejo adequado das pastagens evitando o superpastejo a fim de reduzir a exposição dos equinos à urina contaminada e tratamento dos animais doentes.
Quanto ao tratamento, o foco é controlar a leptospirúria (quando ocorre eliminação da bactéria pela urina). Recomenda-se a administração de Dihidroestreptomicina, inclusive o uso em éguas prenhes pode evitar que ocorram abortamentos. Para animais que apresentam uveíte recorrente, indica-se o uso de antibióticos sistêmicos e corticoides pela via parenteral (para casos agudos) ou subconjuntival (para casos crônicos). Pomadas oftálmicas à base de atropina podem ser aplicadas (três vezes ao dia) a fim de auxiliar na dilatação da pupila e consequentemente oferecer mais conforto ao animal (RADOSTITS et al., 2002 apud CERQUEIRA, 2019).
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Texto: Juliana Melo (Médica Veterinária / Jornalista)
Referências
CAZELLA, Francieli Maria. Leptospirose – revisão de literatura. 2012. 24 f. Monografia (Especialização em Clínica Médica de Pequenos Animais) – Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Porto Alegre, 2012. Disponível em: file:///C:/Users/juliana.melo/Downloads/439-121-783-1-10-20221101.pdf. Acesso em: 09 jan. 2024.
CERQUEIRA, Leidiane Maximiano de. Levantamento soroepidemiológico de Leptospira spp. em equinos na microrregião de Rolim de Moura, RO. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Medicina Veterinária) – Fundação Universidade Federal de Rondônia. Disponível em: https://damvrm.unir.br/uploads/67676767/TCC%202019/Levantamento%20Soroepidemiologico%20de%20Leptospira%20Sp.%20em%20Equinos%20da%20Microrregiao%20de%20Rolim%20de%20Moura%20-%20RO.pdf. Acesso em: 08 jan. 2024.
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FERREIRA, C.; PALHARES, M.S.; MELO, U.P.; GHELLER, V.A.; BRAGA, C.E. Cólicas por compactação em equinos: etiopatogenia, diagnóstico e tratamento. Acta Veterinaria Brasilica, v. 3, n. 3, p. 117-126, 2009.
FERREIRA, C.; PALHARES, M. S.; MELO, U. P.; SILVA, L. T.; LEME, F. O. P.; FILHO, J. M. S. Hematúria macroscópica em equinos associada à infeção por Leptospira interrogans. R. bras. Ci. Vet., v. 28, n. 3, p. 132-137, jul./set. 2021.
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LASTA, C.S.; OLIVEIRA, S.T.; MERINI, L.P.; DASSO, M.G.; PEDRALLI, V.; GONZALEZ, F.H.D. Pesquisa de aglutininas anti-Leptospira em soros de equinos de tração em Porto Alegre, Brasil. Revista Brasileira de Ciência Veterinária, v. 20, n. 1, p. 23-25, 2013.
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RADOSTITS, O.M.; GAY, C.G.; BLOOD, P.C.; HINCHCLIFF, K.W. Clínica Veterinária: um tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e equinos. 9th ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 1737 p.
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