Com o avanço genético, além das melhorias em conforto e da nutrição, cada vez mais as curvas tendem a ser mais persistentes, gerando, cada vez mais, campeãs de produtividade. Obviamente, genética e conforto são fundamentais, além, é claro, do bom manejo alimentar.

Mas do ponto de vista de estratégia nutricional, como podemos buscar vacas mais produtivas? Como podemos garantir uma otimização da curva de lactação?

Basicamente, o primeiro ponto-chave é realizar um bom período de transição. O período de transição pode ser definido como sendo o intervalo entre as três semanas anteriores e as três semanas posteriores em relação ao momento do parto (DRACKLEY, 1999). Ou seja, é uma fase curta, porém fundamental na vida da vaca. Afinal, é onde as principais mudanças metabólicas e imunológicas ocorrem, gerando impacto inclusive na exigência nutricional, uma vez que a vaca está passando de uma fase não lactante para uma lactante.

Vale ressaltar que vários fatores impactam no sucesso período de transição e dentre estes é possível destacar:

  • Uso de dietas aniônicas (Em multíparas);
  • Evitar fatores que possam levar a redução no consumo de matéria seca (CMS; estresse térmicosuperlotação, misturar primíparas com multíparas, manejo alimentar ineficiente, entre outros);
  • Gerar conforto ambiental;
  • Cuidados com os teores de amido e fibra (Dieta pré-parto deve ser coerente com a dieta do pós-parto, principalmente em fazendas que não tem lote específico de pós-parto).

O objetivo nesta fase é proporcionar para a vaca um início de lactação tranquilo, para que busque aumentar o consumo o mais rápido possível e evite as temidas doenças metabólicas, as quais são muito prevalentes neste período.

Somente para ilustrar, do ponto de vista de exigência nutricional, a lactação cobra caro na exigência energética como se pode observar no gráfico 1. Ao passar da fase lactante, a vaca multípara praticamente dobra sua necessidade energética para manter a produção e isto é normal para se manter a lactação.

Em contraponto, o CMS está reduzido e somente alcançará a sua plenitude entre a 10 e 14ª semana de lactação. Com este déficit, a vaca encara o famoso balanço energético negativo (BEN), e este se for de grande magnitude (vaca emagrecer muito após o parto), pode gerar implicações produtivas (vaca não aumenta produção), sanitárias (desencadeamento de doenças metabólicas, a exemplo da cetosedeslocamento de abomasomastite) e também reprodutivas (pode se tornar uma vaca “atrasada” na reprodução).

Portanto, embora saibamos que todas as vacas encarem o BEN, temos que buscar que nossas vacas evitem de perder grandes quantidades de escore corporal (ECC) ao parto, ou em outras palavras, devemos minimizar o BEN.

Este trabalho inicia-se ainda na lactação anterior, evitando de secar animais gordos (ECC >3,5) além de somar com os fatores supracitados. Uma ferramenta bastante útil neste sentido seria o monitoramento do ECC durante a lactação, para que possamos fazer ajustes de acordo com o ano.

O segundo ponto seria potencializar o pico de produção. Aquela máxima que para cada litro que se aumenta no pico gera de 200 a 250 litros numa lactação, é verdadeira. Sendo assim, devemos buscar em nossas propriedades estratégias para aumentar este pico, uma vez que a vaca tende a ser mais responsiva a nutrição nesta fase.

Lembrando também que nesta fase o consumo se limita fácil, principalmente por enchimento. Portanto, devemos ter um olhar especial ao nível de fibra e de amido que devemos utilizar na dieta. Com relação a teores, existem pontos que podemos trabalhar (FDN, FDNfe, amido, amido degradável, etc.), mas a priori, o nível utilizado depende da qualidade do material disponível e do manejo alimentar/operacional da fazenda.

Ou seja, se temos uma dieta com silagem de milho finamente moída como volumoso único teremos um teor de fibra/amido limite, se temos uma condição com silagem e pré-secado de tifton passado, teremos outros teores a serem utilizados. Todavia, o importante nesta fase é não limitar o consumo por enchimento (mais comum de se ocorrer) e cuidar com o desenvolvimento de acidose que podem minar a produção nesta fase.

Um detalhe importante, que cada fazenda tem suas oportunidades e limitações, por isto devemos sempre discutir as situações para se otimizar o pico produtivo de maneira caso a caso.

O terceiro ponto-chave seria o cuidado com vacas de fim de lactação. É notório que estes animais têm uma responsividade menor a nutrição neste período quando visamos produção de leite. A dinâmica metabólica é outra nesta fase e, portanto, os animais tendem a usar a quantidade “extra” que tem de nutrientes para gerar acúmulo no próprio organismo, ganhando ECC.

Se o animal está ganhando ECC de forma excessiva nesta fase, o produtor está perdendo dinheiro por dois motivos:

  1. Ou este animal poderia estar usando uma dieta mais barata, uma vez que não está respondendo em produção;
  2. Ou vai ter dificuldade no próximo parto do animal, uma vez que vai secar este animal acima do ECC ideal e com isto, as chances do animal desenvolver problemas metabólicos aumenta.

Para minimizarmos o impacto nesta fase, uma das alternativas seria o agrupamento dos animais (quando possível, pois depende do operacional das fazendas). Com o agrupamento, animais de baixa poderiam ser alocados para receber uma dieta mais barata e com menor teor energético (Geralmente mais fibra, menos amido, menos gordura, menos aditivos, etc.) e com isto potencializar a eficiência produtiva, e principalmente econômica do rebanho.

Uma revisão recente do JDS (Barrientos-Blanco et al., 2022) ressalta os benefícios das técnicas de agrupamento, além dos fatores acima citados, a sua importância na sustentabilidade da pecuária de leite, uma vez que existe potencial grande de se otimizar o uso de nutrientes e reduzir desperdício. A sustentabilidade cada vez mais tende a ser um assunto mais presente nos próximos anos. 

Fonte: MilkPoint.

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