estresse térmico causa impactos negativos substanciais no desempenho e bem-estar ao longo da vida de uma vaca leiteira. Ainda no útero, a bezerra é exposta ao aumento da temperatura e frequência respiratória da mãe sob estresse térmico.

Portanto, são desafiadas antes do nascimento a fazer uma adaptação fisiológica em resposta às maiores cargas de calor, menor fluxo sanguíneo uterino e reduzida disponibilidade de nutrientes para a placenta. Todos estes fatos impedem a expressão do potencial genético da prole.

Menor peso, tamanho e produção futura são perdas de fácil identificação quanto ao estresse térmico sofrido pelas bezerras no útero.  No entanto, outros efeitos zootécnicos, como as condições imunológicas das bezerras, não são visíveis de imediato.

Exposição materna ao estresse por calor durante o período seco promove uma série de alterações na função imune das bezerras desde o nascimento até o primeiro parto.

Isto porque o desenvolvimento do sistema imunológico bovino inicia-se com a concepção, continua progressivamente no útero e atinge a maturidade aproximadamente seis meses após o nascimento. Devido ao ambiente “protetor” do útero, bezerras são relativamente desprovidas de anticorpos circulantes.

Além disso, fatores maternos no parto, como cortisol elevado, também deprime a competência imunológica da bezerra. Dessa forma, as bezerras recém-nascidas devem obter seus anticorpos do colostro via transferência passiva que, para ser bem-sucedida, depende do conteúdo de imunoglobulina G (IgG) presente no colostro e da capacidade do recém-nascido em absorver IgG.

No entanto, ao invés de prejudicar a qualidade do colostro, o estresse térmico pré-natal altera a capacidade de transferência passiva de IgG, reduzindo sua eficiência aparente de absorção (Figura 1). Tal fato se deve à aceleração do processo de fechamento do intestino pela maior presença de enterócitos apoptóticos no jejuno no nascimento de bezerras sob estresse térmico no útero. ??

Os quadrados sólidos (■) e a barra representam bezerros de vacas expostas ao resfriamento durante o período seco; os círculos abertos ( ) e a barra representam bezerros de vacas sob estresse térmico. Adaptado de Tao et al. (2012)

Figura 1. Efeito do estresse térmico e resfriamento durante o período seco sobre a concentração sérica total de IgG durante os primeiros 28 dias de vida e a eficiência aparente de absorção (EAA). 

Estudo realizado com bezerras nascidas de mães sob estresse térmico, recebendo colostro de suas mães, reduziram proteínas plasmáticas circulantes, contagens de glóbulos vermelhos, plaquetas e hemoglobina circulante, porcentagem de linfócitos e aumentaram a concentração circulante de proteínas de fase aguda.

Além disso, tiveram menor desenvolvimento dos órgãos imunológicos (timo e baço) durante o período pré-desmame em relação àquelas nascidas de vacas resfriadas recebendo colostro de suas mães (Tao et al., 2012).

Dessa forma, o estresse por calor tem impactos diretos na imunidade passiva mediada por células de bezerras recém-nascidas.

 necessidade de adaptar a função imunológica afeta a saúde e reduz a sobrevivência durante o período pós-natal, além de apresentar maior taxa de descarte antes de chegar à primeira lactação.

Contudo, as respostas negativas do estresse por calor na saúde animal podem ser minimizadas mediante adoção de alternativas para modificar o ambiente.

Estratégias de resfriamento são eficazes e bastante estudadas para vacas alojadas em galpões. No entanto, esforço adicional é necessário para torná-las mais acessíveis para gado leiteiro em pastejo, bezerras pré-desmamadas e novilhas em crescimento para manter a função imunológica e ótimo desempenho desses animais em condições de campo.

Autores 
João Vitor Nogueira Almeida1,
Leticia Ribeiro Marques1,
Angélica Cabral Oliveira1,
Thaisa Campos Marques1,
Karen Martins Leão1

1Instituto Federal Goiano – Campus Rio Verde

Referências

DAHL, G. E.; TAO, S; LAPORTA, J. Heat stress impacts immune status in cows across the life cycle. Frontiers in Veterinary Science, v. 7, p. 116, 2020.

DAHL, G. E.; TAO, S.; MONTEIRO, A. P. A. Effects of late-gestation heat stress on immunity and performance of calves. Journal of Dairy Science, v. 99, n. 4, p. 3193-3198, 2016.

LAPORTA, J.; FABRIS, T. F.; SKIBIEL, A. L.; POWELL, J. L.; HAYEN, M. J.; HORVATH, K.; MILLER- CUSHON, E. K.; DAHL, G. E. In utero exposure to heat stress during late gestation has prolonged effects on the activity patterns and growth of dairy calves. Journal of Dairy Science, v. 100, n. 4, p. 2976-2984, 2017.

MONTEIRO, A. P. A.; TAO, S.; THOMPSON, I. M. T.; Dahl, G. E. In utero heat stress decreases calf survival and performance through the first lactation. Journal of Dairy Science,  v. 99, n. 10, p. 8443-8450, 2016.

TAO, S.; MONTEIRO, A. P. A; THOMPSON, I. M.; HAYEN, M. J.; DAHL, G. E. Effect of late-gestation maternal heat stress on growth and immune function of dairy calves. Journal of Dairy Science, v. 95, n. 12, p. 7128-7136, 2012.

 

Fonte: MilkPoint.

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