Resfriar vacas se tornou uma prática comum em muitos setores de lácteos do mundo, especialmente em regiões quentes. Normalmente, avaliamos os benefícios do resfriamento das vacas de acordo com seu efeito nas características produtivas e reprodutivas e no aumento do lucro econômico da fazenda.

Recentemente, outros fatores ganharam importância, entre eles, o impacto do estresse térmico e do resfriamento das vacas sobre o bem-estar animal e o meio ambiente.

No futuro, as fazendas leiteiras serão avaliadas não apenas por sua eficiência econômica, mas também pela forma como os produtores tratam as vacas e a contribuição da fazenda, por meio de seu processo produtivo, na liberação de gases de efeito estufa (GEE) para a atmosfera e, portanto, seu impacto sobre o aquecimento global (1,2).

Impacto do resfriamento das vacas na sustentabilidade ambiental

Normalmente, um alto nível de produção, alcançado parcialmente por meio do resfriamento das vacas no verão, pode ser benéfico para o meio ambiente.

A produção diária de gás metano por vaca e por kg de leite produzido por vacas de alto rendimento (com média de mais de 11.000 kg de leite por ano) é de 40% daquela das vacas de baixa produção, geralmente mantidas em pastagem durante todo o ano ou parte dele (em média perto de 6.000 kg de leite por ano).

Em um estudo que realizamos recentemente em Israel, o “balanço de emissão de GEE” foi calculado para as práticas de resfriamento de vacas usadas nas fazendas leiteiras. O aumento da emissão de CO2 para a atmosfera, devido ao uso da energia elétrica para operação dos ventiladores no processo de resfriamento, foi comparado com a redução esperada na emissão de CO2 equivalente para a atmosfera, devido à redução no número de vacas e novilhas necessárias para produzir uma determinada quantidade de leite.

A melhoria da eficiência produtiva e a redução do rebanho em 5%, devido ao aumento da produção de leite relacionado ao resfriamento das vacas no verão, reduz a emissão de CO2 equivalente (principalmente metano, que emite mais de 20 vezes mais gases do que CO2) a 320 kg/vaca/ano.

Verificou-se que essa redução é o dobro do CO2 emitido no processo de resfriamento (energia elétrica necessária para o funcionamento dos ventiladores no sistema de resfriamento (160 kg/vaca/ano). Caso o aumento esperado na produção anual devido ao resfriamento alcance 10% (resultado comum na maioria das fazendas leiteiras do Brasil), a redução na emissão de CO2 chegará a 4 vezes o CO2 emitido no processo de resfriamento.

Resfriar vacas no verão, além de seu efeito benéfico econômico no aumento da eficiência da produção e na redução da discrepância sazonal na produção de leite, também é ecologicamente correto, reduzindo a contribuição da fazenda leiteira para o efeito estufa e o aquecimento global.

Impacto do resfriamento no bem-estar das vacas

Em publicações recentes, descrevemos o alto custo-benefício do resfriamento intensivo das vacas no verão para mitigar o estresse térmico. Não há dúvida de que as vacas precisam de resfriamento intensivo na estação quente, mas esse processo e a necessidade de movê-las com frequência e fazê-las ficar mais horas por dia para serem resfriadas afetam negativamente seu bem-estar?

A frequência de “mover” as vacas para os locais de resfriamento e os longos períodos que passam em pé nesses locais, levou pesquisadores israelenses a investigar se tal procedimento priva as vacas do tempo de descanso necessário (3).

Quarenta e duas vacas adultas de alto rendimento foram divididas em dois grupos de tratamentos de resfriamento. Ambos os grupos foram resfriados combinando sessões de ciclos de umedecimento e ventilação forçada, por 45 minutos por período de tratamento. Um grupo foi resfriado 5 vezes por dia e um total de 3,75 horas cumulativas (5T), enquanto o outro grupo foi resfriado 8 vezes por dia e um total de 6 horas cumulativas (8T).

Equipamentos sofisticados conectados ao sistema de ordenha monitoravam a produção de leite, o consumo de ração, a temperatura corporal, bem como o tempo de descanso e ruminação da vaca. Os resultados estão descritos nas Tabelas 1 e 2.

Tabela 1 - Efeito da duração do tempo de resfriamento na temperatura da vaca, consumo de ração e produção de leite

 

Tabela 2 - Efeito da duração do tempo de resfriamento na postura das vacas e no tempo de ruminação

Como esperado, o aumento do tempo de resfriamento aumentou o consumo de ração em 2,1 kg/d (8,5%) e a produção diária de leite em 3,4 kg/d (9,3%). A temperatura corporal e a frequência respiratória foram significativamente menores nas vacas 8T, em comparação com as vacas 5T (+0,8oC e + 30 respirações por minuto ao meio-dia).

Inesperadamente, vacas que foram resfriadas intensamente e foram obrigadas a ficar mais tempo na “área de resfriamento”, deitaram por mais horas por dia. Se excluirmos o “tempo de espera obrigatório” em vacas com período de resfriamento mais longo, descobrimos que elas se deitaram por quase 10% mais durante as 24 horas, em comparação com as vacas com período de resfriamento mais curto. O tempo de ruminação também aumentou 6% nas vacas do grupo de período de resfriamento mais longo (445 e 415 minutos por dia, para 8T e 5T, respectivamente).

O que podemos aprender com esses resultados é que o resfriamento intensivo de vacas de alto rendimento no verão não apenas melhora sua produtividade, mas também melhora seu bem-estar.

Vacas estressadas pelo calor tendem a ficar em pé e aglomeradas enquanto as vacas resfriadas com mais frequência em dias extremamente quentes de verão, o que permite mantê-las em condições térmicas normais por mais horas por dia, deitam mais tempo e provavelmente se sentem mais confortáveis.

Em conclusão, os produtores de leite devem saber que, ao resfriar as vacas, não estão apenas melhorando a lucratividade da fazenda, mas, ao mesmo tempo, melhoram o bem-estar da vaca e reduzem a emissão de gases de efeito estufa para a atmosfera, tornando sua fazenda mais ecologicamente correta.

 

Referências:
1. IDF annual meeting 2006, Shanghai, China. Special conference titled “Reduction of Greenhouse Gas Emission at Farm and Manufacturing Levels” , Bulletin 422/2007.

2. First IDF Dairy Summit – The heat is on? , Edinburgh, Scotland, June 2008. (Lecture presented by Dr. Torsten Hemme from IFCN institute in the summit).

3. Honig et al. Performance and welfare of high-yielding dairy cows subjected to 5 or 8 cooling sessions daily under hot and humid climate. J. Dairy Sci. 95:3736-3742. (2012).

 

Fonte: MilkPoint.

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