INTRODUÇÃO
A leptospirose bovina é um dos principais desafios sanitários na pecuária, especialmente em sistemas de produção leiteira. Essa enfermidade é causada por bactérias do gênero Leptospira spp. e apresenta uma relação direta com roedores e fatores climáticos e de manejo, sendo agravada por condições ambientais favoráveis à permanência do agente infeccioso no ambiente, como calor e umidade alta (JAMAS et al., 2020). Se trata de uma doença infectocontagiosa e de ampla distribuição mundial, e no Brasil, ela é considerada uma doença endêmica, especialmente em regiões tropicais e subtropicais, onde fatores ambientais favorecem sua disseminação (FAVERO et al., 2001).
Os bovinos podem atuar como hospedeiros da bactéria leptospira, tornando-se reservatórios da doença, o que resulta em significativos prejuízos econômicos para a pecuária. Entre as principais manifestações clínicas estão os distúrbios reprodutivos, como perda embrionária, abortamentos tardios, natimortalidade e infertilidade (FAVERO et al., 2001). Ademais, a leptospirose também representa um risco à saúde pública, pois é uma zoonose transmitida ao ser humano pelo contato com animais infectados ou águas contaminadas (VASCONCELLOS et al., 1997). Medidas preventivas, como o manejo sanitário adequado, vacinação e controle de reservatórios, são essenciais para mitigar os impactos da doença (ELLIS, 2015).
Além disso, na forma subclínica os animais podem atuar como reservatórios assintomáticos, denominados de “portadores renais”, eliminando leptospiras na urina por longos períodos (LIBONATI et al., 2018). A transmissão entre os bovinos ocorre principalmente pelo contato direto com animais infectados, por meio da urina, durante o acasalamento, ou indiretamente, através da água e solo contaminados (VASCONCELLOS et al., 1997). A leptospirose bovina é causada pela bactéria Leptospira interrogans, especialmente pelos sorovares: pomona e hardjo. Esses sorovares são considerados os principais responsáveis pela infecção crônica em bovinos (SÁNCHEZ et al., 2016).
A leptospirose pode se apresentar de diferentes formas, sendo, a forma aguda ou manifestação clínica a mais severa de todas, que é quando o animal apresenta os sintomas da doença, ela também está associada a surtos no rebanho e pode levar o animal à óbito. Vale ressaltar também a forma crônica ou subclínica da doença, que é quando o animal se torna um portador renal e fica eliminando o agente patogênico através da urina, dessa forma contamina o ambiente e outros animais. Por fim, mas não menos importante, temos a forma genital que é quando a bactéria fica alojada no útero e o principal sinal clínico são baixos índices reprodutivos (DELOOZ et al., 2018).
A leptospirose genital bovina é uma importante doença reprodutiva, sendo considerada uma das principais causas de falhas reprodutivas em ruminantes, o que leva à morte embrionária, abortos, repetição de estro, natimortos, nascimento de bezerros fracos, diminuição dos parâmetros de crescimento e queda na produção de leite. A enfermidade é caraterizada pela presença de leptospiras do grupo Sejroe no útero da vaca (AYMÉE, MENDES, LILENBAUM, 2024).
Manifestação clínica e diagnóstico
A infecção pode ser subclínica ou apresentar sintomas clínicos que variam de acordo com a fase da doença. Em casos agudos, os animais apresentam febre, icterícia, anemia, mastite atípica e hemoglobinúria. Já em quadros crônicos, há infertilidade, abortos e redução na produção leiteira. A leptospirose pode passar despercebida em estágios iniciais, mas seus efeitos econômicos são significativos, com perdas diretas e indiretas (PORTO et al., 2018). O diagnóstico pode ser realizado por exames sorológicos, como a Soroaglutinação Microscópica (SAM), e testes moleculares, como a PCR, que permitem detectar o DNA da Leptospira spp. nos tecidos infectados (HEINEMANN et al., 1995). No caso da leptospirose genital crônica o diagnóstico é realizado pelo método PCR do muco cérvico-vaginal (AYMÉE, MENDES, LILENBAUM, 2024).
Impactos na pecuária e na saúde pública
A leptospirose causa grandes prejuízos econômicos, pois reduz a produtividade do rebanho e aumenta a taxa de abortos e natimortalidade (LILENBAUM & MARTINS, 2014). No contexto de saúde pública, é uma zoonose de grande importância, podendo acometer trabalhadores rurais e populações expostas às águas contaminadas (ASHFORD et al., 2000). A prevenção passa pelo controle sanitário adequado, uso de EPI e monitoramento de fontes de água e alimentos (VASCONCELLOS, 2004).
Medidas de prevenção e controle
A leptospirose é uma doença relevante tanto para a pecuária quanto para a saúde pública, e a implementação de medidas de biossegurança, aliada à vacinação e ao manejo adequado, é essencial para a redução dos impactos econômicos e sanitários da doença (MINEIRO et al., 2007).
As estratégias de prevenção envolvem a vacinação periódica dos animais, adoção de boas práticas sanitárias, controle de roedores e monitoramento dos rebanhos para identificação precoce da doença (GENOVEZ, 2016). Vale ressaltar que a vacinação não trata os animais já infectados, sendo necessário realizar o tratamento dos portadores com antimicrobiano para eliminar a infecção do rebanho. O tratamento deve ser realizado com antibioticoterapia, sendo a Dihidroestreptomicina o fármaco mais recomendado para tratamento, devido à sua elevada eliminação renal (ELLIS, 1985).
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Texto: Aline M. Carvalho
Referências
ASHFORD, D. A.; KAISER, R. M.; SPIEGEL, R. A.; PERKINS, B. A.; WEYANT, R. S.; BRAGG, S. L.; et al. Asymptomatic infection and risk factors for leptospirosis in Nicaragua. Am J Trop Med Hyg., v. 63, n. 5-6, p. 249-54, 2000.
AYMÉE, L., MENDES, J., LILENBAUM, W. Leptospirose genital bovina: uma atualização desta importante doença reprodutiva. Animais, 14 (2), 322. 2024. https://doi.org/10.3390/ani14020322
DELOOZ, L., CZAPLICKI, G., GREGOIRE, F., DAL POZZO, F., PEZ, F., KODJO, A., SAEGERMAN, C. Serogroups and genotypes of Leptospira spp. strains from bovine aborted foetuses. Transboundary and emerging diseases, 65(1), 158-165. 2018.
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VASCONCELLOS, S. Laboratory diagnosis of leptospirosis in animals. Anais do Simpósio Internacional sobre Leptospira y Leptospirosis En las Américas., Cidade do México, p. 70-76, 2004.