Mastite: Conceito, Etiologia e Impactos
Considerada um desafio para a cadeia produtiva do leite, a mastite exige estratégias eficazes de controle e tratamento. A adoção de boas práticas de ordenha, protocolos racionais de antibióticos e o aprimoramento dos testes de diagnóstico são medidas essenciais para minimizar perdas e garantir a qualidade do leite (BARKEMA, 2006).
A mastite é uma inflamação da glândula mamária causada pela resposta imunológica a fim de combater agentes infecciosos invasores, como bactérias, fungos, leveduras e algas. Os principais agentes envolvidos são as bactérias, dentre elas as espécies mais comuns incluem Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae e Escherichia coli (RADOSTITS et al., 2007; DOS SANTOS et al., 2017).
A doença pode ser classificada como mastite contagiosa ou ambiental, conforme os patógenos causadores. A mastite contagiosa é caracterizada pela transmissão de microrganismos patogênicos entre as vacas, principalmente durante a ordenha, por meio das mãos do ordenhador, equipamentos de ordenha contaminados ou uso de panos coletivos, entre outros materiais. Os principais agentes associados são Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae, essas bactérias colonizam os ductos da glândula mamária e podem causar infecções persistentes e recorrentes. Esse tipo de mastite tende a gerar casos crônicos e de difícil tratamento, o que resulta em redução significativa da produção e qualidade do leite. Como apresenta alto potencial de disseminação dentro do rebanho, o controle da mastite contagiosa exige práticas rigorosas de higiene na ordenha, manutenção adequada dos equipamentos e implementação de medidas de biosseguridade para reduzir a transmissão (RADOSTITS et al., 2007; BARKEMA et al., 2006).
A mastite ambiental é provocada pela exposição da glândula mamária a microrganismos presentes no ambiente em que os animais vivem, especialmente em locais úmidos e mal higienizados, como camas, fezes, solo e água contaminada. Os principais patógenos envolvidos são Escherichia coli e Streptococcus uberis, que geralmente penetram no canal do teto entre as ordenhas, quando o esfíncter se encontra relaxado. Ao contrário da mastite contagiosa, cuja transmissão ocorre principalmente durante a ordenha, a mastite ambiental está diretamente associada às condições de manejo, higiene e bem-estar do rebanho. Sua ocorrência tende a aumentar em sistemas de produção intensivos ou em períodos chuvosos, quando há maior umidade nas instalações. A prevenção exige práticas adequadas de higiene, limpeza das instalações, além do monitoramento constante da saúde do úbere, outra prática bastante efetiva é realizar o arraçoamento das vacas logo após a ordenha, pois dessa forma evita que as mesmas se deitem no solo contaminado nos primeiros 30 minutos pós ordenha, período esse que o esfíncter do teto está aberto e favorece a entrada de patógenos no úbere. Então, todas essas medidas combinadas são fundamentais para reduzir a pressão de infecção ambiental e minimizar as perdas produtivas (HALASA et al., 2007; COSER et al., 2012; LOPES et al., 2018).
Além disso, a manifestação dos casos de mastite pode ser considerada clínica, ou seja, com sinais clínicos aparentes da doença, podendo apresentar quadros agudos ou superagudos; ou casos subclínicos, quando não há alterações no leite e nem sinais de inflamação na glândula mamária, sendo possível identificar a doença somente por meio de testes específicos (COSER et al., 2012; LOPES et al., 2018; FONSECA et al., 2020).
Nos casos de mastite clínica é comum observar sinais clínicos bastante visíveis, como, grumos de pus e sangue no leite, edema e sensibilidade do úbere, aumento da temperatura e em casos mais agudos é possível observar sinais sistêmicos no animal, como, febre, inapetência, apatia, aumento da frequência cardíaca e respiratória, e em casos graves pode causar a perda da função do quarto mamário afetado e até mesmo a morte do animal. Já a mastite subclínica não apresenta nenhum sinal clínico visível, pois se trata de uma doença silenciosa e que causa grandes prejuízos a pecuária leiteira. É possível observar apenas o aumento do número de células somáticas (células de defesa) no leite (BARKEMA, 2006; RADOSTITS et al., 2007; COSER et al., 2012; CALIMAN et al., 2023).
Os animais acometidos pela enfermidade têm uma redução significativa na produção e na qualidade do leite, e se não forem tratados de maneira adequada, podem desenvolver a forma crônica da doença (CALIMAN et al., 2023). Os impactos econômicos da mastite incluem a redução da produtividade, custos extras com manejo e perdas decorrentes do descarte de leite contaminado com antimicrobianos (HALASA et al., 2007).
Controle, diagnóstico e tratamento
O controle da mastite baseia-se na adoção de boas práticas de higiene durante a ordenha das vacas. A utilização de pré e pós-dipping na desinfecção dos tetos, a higienização adequada das mãos do ordenhador, a desinfecção de teteiras e outros materiais de uso comum, impedem a disseminação da doença no rebanho (COSER et al., 2012).
Outro ponto de extrema importância para a prevenção e controle da mastite é a realização da linha de ordenha, para que as vacas positivas para mastite não contaminem as vacas sadias. A sequência correta para ordenhar as vacas deve seguir o seguinte padrão: devem ser ordenhadas primeiro as novilhas primíparas, em seguida as vacas mais jovens, vacas adultas que nunca tiveram mastite, as que já tiveram mastite e se recuperaram da doença e por último as vacas que estão com mastite (COSER et al., 2012).
O diagnóstico da mastite clínica é realizado rotineiramente durante a ordenha, com o uso da caneca telada de fundo preto, que permite a visualização de grumos ou outras alterações no leite. Além disso, a inspeção visual e a palpação do úbere são essenciais para identificar alterações como aumento de volume, calor, dor ou áreas de consistência anormal, que podem ser difusas ou localizadas. O diagnóstico precoce é crucial para aumentar as chances de cura e evitar a disseminação da infecção no rebanho.
Já a mastite subclínica, por não apresentar sinais visíveis, requer a utilização de testes específicos. O mais comum é o California Mastitis Test (CMT), de fácil aplicação na própria fazenda, que identifica alterações na composição do leite por meio de uma reação visual. Outra ferramenta importante é a Contagem de Células Somáticas (CCS), realizada em laboratórios especializados, que fornece uma avaliação quantitativa da saúde da glândula mamária. Independentemente do método utilizado, os testes devem ser aplicados de forma rotineira para o monitoramento efetivo da mastite no rebanho. (FONSECA et al., 2020).
A JA Saúde Animal, possui uma linha bastante ampla e completa de medicamentos para tratamento dos variados tipos de mastite! Em casos moderados a graves, pode ser necessário associar antibióticos e anti-inflamatórios injetáveis ao uso de intramamários, especialmente quando há comprometimento sistêmico do animal ou diante de agentes etiológicos mais agressivos. A escolha do protocolo ideal deve considerar a gravidade do quadro clínico do animal e, sempre que possível, o agente etológico envolvido. O acompanhamento veterinário também é fundamental para garantir um tratamento eficaz e seguro.
Os casos de mastite contagiosa causada por Staphylococcus aureus são de difícil tratamento durante a fase de lactação e baixa taxa de cura, pois exigem um tratamento mais longo, acima de 7 dias, com aplicações locais e parenterais. Como sugestão, recomendamos o Cetofur®, uma associação moderna à base de Ceftiofur, um eficaz antimicrobiano a um anti-inflamatório não esteroidal, o Cetoprofeno. A dose recomendada do Cetofur® é de 20 mL a cada 24 horas, durante 9 dias, pela via intramuscular. Outra opção de tratamento seria o Diclotril®, a base de Enrofloxacina que é um antimicrobiano de amplo espectro de ação e o Diclofenaco de sódio que possui ação anti-inflamatória, analgésica e antipirética. A dose recomendada é de 15 mL a cada 24 horas, durante 7 dias, pela via intramuscular. Em associação a terapia parenteral, recomendamos também tratamento local, como opção, sugerimos o intramamário Mastite Clínica VL®, uma potente associação de antimicrobiano à base de Amoxicilina, Clavulanato de Potássio e do anti-inflamatório Prednisolona. A recomendação de aplicação é de 1 bisnaga ao dia no teto afetado, durante 7 dias.
Os animais que não apresentam quadros clínicos da doença, é aconselhável que seja realizado o tratamento no período de secagem, e como opção, sugerimos a utilização de uma suspenção intramamária de antimicrobiano de amplo espectro e de longa ação, sendo recomendado a aplicação de 1 bisnaga em cada teto após a última esgota de leite. Associado ao intramamário, recomendamos uma única dose de 50 mL de Benzafort 12 Milhões®, pela via intramuscular. O Benzafort 12 Milhões®, é um antibiótico a base de Penicilina G Benzatina, sendo de extralonga ação e por isso é altamente eficaz no tratamento das mastites que não obtiveram cura durante o período de lactação.
O tratamento para casos de mastite ambiental causada por Escherichia Coli, geralmente são graves e devem ser tratados com urgência. Recomendamos a administração do Gentopen 20 Milhões®, que é um antimicrobiano a base de Gentamicina e Benzilpenicilina Potássica, sendo indicado para o tratamento de doenças graves e agudas. A dose recomendada é de 1 frasco para um animal de 500 Kg a cada 12 horas, durante 5 dias, pela via intravenosa ou intramuscular. Em associação, sugerimos a administração de um anti-inflamatório a base de Flunixin Meglumine, na dose de 2 mL para cada 45 Kg de peso corpóreo (2,2 mg/Kg), uma vez ao dia, pela via intramuscular, durante 3 dias.
Para casos menos graves, envolvendo outros agentes bacterianos, sugerimos o Cetofur®, 20 mL a cada 24 horas, durante 5 dias, pela via intramuscular, associado ao intramamário Mastite Clínica VL®, 1 bisnaga ao dia no teto afetado, durante 5 dias. Outra possibilidade de tratamento, é a aplicação local de intramamários e a administração parenteral de um anti-inflamatório.
Lembrando que, é indispensável a avaliação de um médico veterinário, para que avalie cada caso de forma individual e prescreva o melhor tratamento.
Para mais informações, entre em contato conosco!
Texto: Aline M. Carvalho
Referências
1. BARKEMA, H. W., SCHUKKEN, Y. H., ZADOKS, R. N. Invited review: The role of cow, pathogen, and treatment regimen in the therapeutic success of bovine Staphylococcus aureus mastitis. Journal of dairy science, 89(6), 1877-1895. 2006. DOI: 10.3168/jds.S0022-0302(06)72256-1.
2. CALIMAN M.F.; GASPAROTTO P. H. G; RIBEIRO L. F. Principais impactos da mastita bovina: revisão de literatura. Revista GeTeC, v. 12, n. 37, 2023.
3. COSER, S. M., LOPES, M. A., COSTA, G. M. Mastite bovina: controle e prevenção. Boletim Técnico do Governo do Brasil, v. 93, p. 1–30, 2012.
4. DOS SANTOS, W. B. R., DE OLIVEIRA, N. C., DE LIMA VIEIRA, M., RIBEIRO, J. C., CEZÁRIO, A. S., CAMARGOS, A. S., VALENTE, T. N. P. MASTITE BOVINA: UMA REVISÃO. Colloquium Agrariae, vol. 13, n. Especial, Jan–Jun, 2017, p. 301-314. ISSN: 1809-8215. DOI: 10.5747/ca.2017.v13.nesp.000235.
5. FONSECA M.E.; MOURÃO A.M.; CHAGAS J.D.; ÁVILA L.M.; MARQUES T.L.; DE AZEVEDO BAÊTA B.; DE MORAES R.F.; ROIER E.C.; Mastite bovina: revisão. Pubvet, v.15, p.162, 2020.
6. HALASA, T., HUIJPS, K., ØSTERÅS, O., HOGEVEEN, H. Economic effects of bovine mastitis and mastitis management: A review. Veterinary quarterly, 29(1), 18-31. 2007. DOI: 10.1080/01652176.2007.9695224.
7. LOPES, B. C.; MANZI, M. P.; LANGONI, H. Etiologia das mastites: pesquisa de microorganismos da classe Mollicutes. Vet. e Zootec., v. 25, n.2, 2018.
8. RADOSTITS, OM, GAY, CC, HINCHCLIFF, KW E CONSTABLE, PD. Veterinary Medicine: A textbook of the diseases of cattle, horses, sheep, pigs and goats. 10. ed. Philadelphia: Elsevier, 2007.