Cetose em vacas leiteiras:  A importância do monitoramento dos corpos cetônicos no pós-parto

 

 A Cetose ou acetonemia é uma doença metabólica comum nos rebanhos brasileiros. Nesse sentido, conheça um pouco mais sobre a doença e entenda a importância do monitoramento dos corpos cetônicos para conter prejuízos.

 

O que é Cetose ou Acetonemia?

No período conhecido como “Período de Transição”, que compreende as três semanas antes e após o parto, as vacas leiteiras passam por várias mudanças metabólicas e fisiológicas. Tais mudanças surgem como forma de preparação do organismo para o parto e para a lactogênese (MOTA et al., 2006). Nesse sentido, especialmente nas três semanas pós-parto, as vacas leiteiras entram em estado de balanço energético negativo pelo qual a necessidade energética desses animais supera a quantidade de alimentos ingeridos.

Dessa maneira, por haver grande demanda por energia, o organismo inicia a queima de gorduras, com consequente sobrecarga no fígado, ocasionando maior produção de corpos cetônicos. Tais corpos cetônicos vão para a corrente sanguínea, ocorrendo uma interrupção na produção de glicose pelo fígado, resultando então em hipoglicemia. Todo esse processo é conhecido como cetose ou acetonemia.

 

Cetose Clínica x Cetose Subclínica

A cetose pode ocorrer nas formas clínica e subclínica. Na cetose clínica é possível verificar alta concentração sanguínea de corpos cetônicos, presença de hipoglicemia e outros sinais como a falta de apetite, anorexia, fezes secas, queda na produção leiteira, atonia ruminal e sinais neurológicos. Em contrapartida, na cetose subclínica há excesso de corpos cetônicos, entretanto, sem a presença de sinais clínicos, dificultando o diagnóstico (ARAÚJO, 2013). Daí a importância do monitoramento de corpos cetônicos em vacas leiteiras após o parto.

 

Prejuízos

A partir da ocorrência da doença, o animal passa por uma diminuição na imunidade, o que contribui para o surgimento de outros problemas como metrites, retenção de placenta, deslocamento de abomaso e laminites. Além disso, é importante destacar a questão da queda na produção leiteira como consequência da cetose (SCHEIN, 2012). Alguns prejuízos podem ser considerados como irreversíveis no período da lactação, especialmente aqueles causados em decorrência ao descarte de animais, tratamentos, mão de obra, descarte do leite, queda na produção e na eficiência produtiva (ARAUJO, 2013).

 

Importância do monitoramento

O monitoramento da cetose subclínica é altamente relevante, tendo em vista a ausência de sinais e os prejuízos consequentes. Dessa maneira, um programa de dosagem de cetonas precisa ser iniciado após o parto, sendo as duas primeiras semanas pós-parto o período de maior incidência (DUFFIELD; LEBLANC, 2009). Nesse contexto, é recomendada a realização do teste para mensuração de corpos cetônicos no sangue (BHB), que pode ser feito através de aparelho específico para animais ou utilizando um aparelho de uso humano (ARAÚJO, 2013).

De forma prática, o E-BOOK “Cetose em Bovinos Leiteiros” da JA Saúde Animal descreve o passo a passo para a realização do teste. Em suma, após realizar antissepsia correta da região ventral da base da cauda do animal, deve ser efetuado um pique por meio de agulha (40×12) no local, em seguida a fita é colocada no aparelho e após um sinal deposita-se a gota de sangue na extremidade. Por fim, o aparelho fornece o resultado que deve ser interpretado de acordo com os valores de referência descritos na tabela a seguir:

Tabela com valores de referência, mostra que os valores são: 0 a 1,2 mmol/l (Normal); 1,2 a 5,0 mmol/l (Cetose Subclínica) e > 5,0 mmol/l (Cetose Clínica).

 

Prevenção e Tratamento

Para comentar sobre a prevenção é imprescindível que os fatores predisponentes sejam mencionados. Segundo Araújo (2013), entre os principais destacam-se:

  • Obesidade: o excesso de gordura corporal intensifica os depósitos intra-abdominais, limita a capacidade de ingestão de alimentos no pós-parto e provoca o aumento da concentração de leptina, hormônio proteico produzido pelo tecido adiposo que tem alto potencial de limitações de consumo de matéria seca (ECHEVERRY etal,2012);
  • Patologias no pós-parto (comprometem a ingestão de alimentos); Restrição no consumo de nutrientes;
  • Baixo fornecimento de proteínas no período seco ou excesso de proteínas na forma de nitrogênio não proteico;
  • Estresse térmico, restrição hídrica, superpopulação (fatores que aumentam o balanço energético negativo e consequentemente a mobilização de gordura);
  • Deficiência de cobalto e enxofre (que leva ao déficit de vitamina B12 e da produção de ácido propiônico).

Nesse âmbito, a prevenção encontra-se intimamente relacionada à nutrição, que deve ser feita em conformidade com as exigências de cada animal.

Ainda conforme Araújo (2013), o tratamento da Cetose é baseado em três princípios: restabelecimento rápido dos níveis de glicose, restabelecimento dos níveis de oxalacetato (que influencia na redução da produção de corpos cetônicos e intensificação da gliconeogênese) e no aumento da disponibilidade de percussores propiônicos na dieta (ácido propiônico). Assim, de acordo com Schein (2012), o tratamento tradicional compreende o uso de Glicose (50%) via intravenosa (para efeito hiperglicemiante) e o uso de Glicocorticóide (que contribuirá para gliconeogênese). Recomenda-se ainda o uso de vitamina B12, como tratamento de suporte, a fim de estimular o apetite do animal.

 

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Texto: Juliana Melo
Médica Veterinária – JA Saúde Animal

 

Referências

ARAÚJO, Davi Brito de. Cetose Bovina: Causas, tratamento e prevenção. 2013. Disponível em: https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao-de-leite/monitoramento-de-doencas-metabolicas-no-periparto-parte-i-cetose-subclinica-83317n.aspx. Acesso em: 19 jan. 2022.

DUFFIELD, T. F., LEBLANC, S. J. Interpretation of serum metabolic parameters around the transition period. Southwest Nutrition and Management Conference, p. 106-114, 2009. Disponível em: https://www.academia.edu/9270793/Interpretation_of_Serum_Metabolic_Parameters_Around_the_Transition_Period. Acesso em 19 jan. 2022.

MOTA, M.F.; PINTO-NETO, A.; SANTOS, G.T.; FONSECA, J.F.; CIFFONI, E.M.G. Período de transição na vaca leiteira. Arq. ciên. vet. zool. UNIPAR, Umuarama, v. 9, n. 1, p.77-81, 2006. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/51799/1/API-Periodo-de-transicao.pdf. Acesso em: 19 jan. 2022.

SCHEIN, Ingrid HÖrlle. Cetose dos ruminantes. 2012. Disponível em: https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2013/10/cetose.pdf. Acesso em: 19 jan. 2022.

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