Tristezinha, Mal da boca branca, Piroplasmose e Amarelão são as diferentes denominações dadas à Tristeza Parasitária Bovina. Conheça um pouco sobre tal complexo, formas de transmissão, prevenção e tratamento.
Definida como um complexo de doenças causado por um ou mais agentes infecciosos, a Tristeza Parasitária Bovina ocorre a partir de infecções pelos seguintes agentes: Babesia bovis e Babesia bigemina (protozoários), responsáveis pela Babesiose e Anaplasma marginale (riquétsia), causadora da Anaplasmose. Por terem características em comum, incluindo o fato de serem parasitas intracelulares obrigatórios, invadirem as hemácias e serem transmitidos especialmente por carrapatos da espécie Rhipicephalus (Boophilus) microplus, todos estão nesse mesmo grupo de doenças (SANTOS, 2019).
A denominação popular do complexo “Tristeza Parasitária Bovina” é bastante sugestiva uma vez que ambas as doenças são causadoras de anemia nos animais, principalmente em bezerros, havendo destruição das hemácias e consequente queda de oxigenação. Geralmente, os principais sinais incluem fraqueza, respiração ofegante, falta de ar e prostração. A ocorrência do complexo é mais comum em animais de origem europeia bos taurus, que apresentam menos oleosidade na pelagem, o que os tornam mais susceptíveis aos carrapatos, transmissores dessas doenças.
Transmissão
De forma geral, a transmissão do Anaplasma ocorre através de carrapatos, insetos hematófagos (moscas e mosquitos), transfusões de sangue, cirurgias e vacinações. Em contrapartida, a Babesia é transmitida exclusivamente pelo carrapato do gênero Boophilus microplus. Desta maneira, como o carrapato apresenta-se como vetor de ambas as doenças, a gravidade dos quadros está bastante relacionada aos níveis de infestação no ambiente (SACCO, 2002). O período de incubação das duas doenças difere uma vez que na Babesia dura aproximadamente de 10 a 15 dias e no Anaplasma, em média 30 dias.
Sinais Clínicos
Na Babesiose geralmente os sintomas podem ser observados entre 8 e 16 dias após a infecção, sendo comum a ocorrência de febre, inapetência, apatia, anemia, icterícia e hemoglobinúria. É importante destacar que na Babesiose por Babesia bigemina a hemoglobinúria é muito frequente e na Babesiose por Babesia bovis podem ocorrer até mesmo sintomas neurológicos devido à localização do protozoário em capilares cerebrais. Já a Anaplasmose apresenta período de incubação mais longo, sendo os sintomas (semelhantes aos da Babesiose) observados geralmente entre 20 e 45 dias depois da infecção. Além disso, o animal pode apresentar dificuldade na defecação, fezes ressecadas com a presença de estrias de sangue, problemas de fertilidade em touros e abortos em fêmeas. Contudo, nesta última não ocorre hemoglobinúria (SAUERESSIG, 1995).
Prevenção
A prevenção da Tristeza Parasitária Bovina pode ser feita de algumas formas como por exemplo, através do controle dos vetores por controle biológico ou por aplicação de acaricidas, pela colostragem, pela quimioprofilaxia ou pela premunição (SILVA, 2021). Levando em consideração as formas de transmissão e o carrapato como vetor principal, dentre as mais importantes maneiras de prevenção está a realização do controle integrado do carrapato, buscando a redução dos níveis de infestação ao longo de todo o ano, de modo estratégico (EMBRAPA, 2008).
Neste método o vetor (carrapato) não é completamente eliminado do ambiente, entretanto sua ocorrência é reduzida de maneira que seja possível que o animal desenvolva imunidade por contato mínimo com o vetor. Além disso, para a realização correta são necessárias aplicações de carrapaticidas a longo prazo em determinadas épocas do ano, em doses e concentrações adequadas, sempre prezando pelo rodízio do princípio ativo (TRINDADE et al., 2011).
Outra maneira de prevenção contra a Tristeza Parasitária Bovina está no fornecimento correto de colostro aos bezerros, sempre garantindo que esse colostro seja ingerido ao longo das primeiras 24 horas após o parto. Essa ingestão contribui para o desenvolvimento da imunidade passiva por conta da absorção de imunoglobulinas, que dura por meses no organismo do bezerro (BRITO et al., 2019). Outra via de prevenção consiste na realização da quimioprofilaxia, que tem o objetivo de tratar antecipadamente os animais que estão em situação de risco, garantindo uma proteção profilática aos agentes causadores da doença (SANTOS et al., 2019).
Por fim, outra opção é realizar a Premunição, que consiste na inoculação do sangue de animais portadores em animais vulneráveis. Esse processo tem como objetivo desenvolver imunidade prévia, melhorando a resposta imune do animal frente às infecções naturais (GONÇALVES, 2000; TRINDADE et al., 2011).
Tratamento
De forma específica, recomenda-se que o tratamento para Babesiose seja feito através de derivados de diamidina e o tratamento de Anaplasmose com uso de tetraciclinas ou quinolonas. Por isso, é importante que os agentes sejam detectados por meio de esfregaço sanguíneo ou diferenciados pelo menos pelos sinais clínicos. Caso não seja possível fechar o diagnóstico, pode-se combinar o uso de babesicida com anaplasmicida. Geralmente o tratamento precoce específico é suficiente para a recuperação do animal doente, todavia, em alguns casos é necessário realizar transfusão de sangue, terapia de suporte (administração de soro) e administração de protetor hepático (EMBRAPA, 2001).
Medicamentos JA
Ganavet Plus: Medicamento antiparasitário e antipirético à base de diminazeno e fenazona, indicado em casos de Tristeza Parasitária Bovina, causados por Babesia bovis e Babesia bigemina (ação babesicida). Sua administração é por via intramuscular sendo recomendado 1 ml para cada 20 kg de peso corporal, em dose única.
Diclotril: Consiste em um antimicrobiano bactericida de amplo espectro, associado a anti-inflamatório (à base de Enrofloxacina e Diclofenaco de Sódio) que combate Anaplasmose (Anaplasma spp.) (ação anaplasmicida), dentre outras doenças. Em casos de infecções graves e Anaplasmose recomenda-se a aplicação de 1 ml para cada 20 kg de peso corpóreo, a cada 24 horas, durante 3 a 5 dias.
Tetra-micina: Um antimicrobiano de amplo espectro de ação à base de Oxitetraciclina, podendo ser administrado 1 ml a cada 10 kg, uma aplicação a cada 48 horas por via intramuscular.
Turbovit B12: Suplemento vitamínico bastante concentrado, à base de Vitamina B12. É indicado para os estados carenciais de Cianocobalamina, característicos de animais anêmicos ou em recuperação decorrente de outras doenças. Seu uso é uma importante forma de potencializar o desempenho dos animais e estimular o apetite, o que contribui para a recuperação.
Ganavet Plus juntamente com Diclotril ou Tetra-micina, podem ser usados nos casos de Tristeza Parasitária Bovina. Turbovit B12 é recomendado como tratamento de suporte para a doença, uma vez que, sua principal função é na eritropoiese (produção dos glóbulos vermelhos do sangue), tendo em vista a anemia causada pelo complexo.
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Texto:
Juliana Ferreira Melo
Médica Veterinária / Jornalista
Referências
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EMBRAPA. Controle/Profilaxia da Tristeza Parasitária Bovina. Infoteca-e, Bagé, 2001. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/227317/1/ct382001.pdf. Acesso em: 03 mar. 2022.
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SACCO, Ana Maria Sastre. Profilaxia da Tristeza Parasitária Bovina: Por quê, quando e como fazer. Bagé, RS: Embrapa, 2002. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/55691/1/CR28-02.pdf. Acesso em: 24 fev. 2022.
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SAUERESSIG, Thelma Maria. O carrapato e a tristeza parasitária bovina. Circular Técnica, Planaltina, DF, Embrapa- CPAC, v. 31, n.1, p. 16, 1995. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/550184/1/cirtec31.pdf. Acesso em: 03 mar. 2022.
SILVA, Thaíz Furtado; SOBRINHO, Ana Vitória Alves; LIMA, Luiz Felipe Souza de; ZIEMNICZAK, Henrique Trevizoli; LOPES, Dyomar Toledo; SILVA, Vera Lúcia Dias da; BRAGA, Ísis Assis; SATURNO, Klaus Casaro; RAMOS, Dirceu Guilherme de Souza. Tristeza Parasitária Bovina: Revisão. Research Society Development, v. 10, n.1, 2021. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/11631. Acesso em: 03 mar. 2022.
TRINDADE, H. I., ALMEIDA, K. S., FREITAS, & F. L. C. Tristeza Parasitária Bovina – Revisão de Literatura. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, 16, 1-21, 2011.