vaca com moscas dos chifres
Leptospirose em Bovinos

A Leptospirose é uma doença bacteriana que acomete diversas espécies de animais. Conheça alguns detalhes sobre a doença em bovinos, especialmente leiteiros.

 

Segundo dados divulgados pelo IBGE em 2021, a pecuária leiteira apresentou crescimento no setor pelo terceiro ano consecutivo, atingindo em 2020 sua maior produção histórica (35,4 bilhões de litros de leite) em um único ano (CNA, 2021). Nessa perspectiva de ascensão é interessante que a sanidade do rebanho seja constantemente assegurada, a fim de manter tais resultados positivos. Desta forma, é importante comentar sobre doenças responsáveis por prejuízos na atividade leiteira, como por exemplo a Leptospirose Bovina, capaz de ocasionar queda na produção de leite, mastite, abortamento e casos de infertilidade.

 

Com distribuição mundial e de caráter endêmico no Brasil, a Leptospirose Bovina é uma doença de curso agudo ou crônico, causada por bactérias do gênero Leptospira. Apresenta grande relevância em saúde pública por se tratar de uma zoonose, ou seja, doença que pode ser transmitida dos animais para os seres humanos. Possui maior ocorrência com a chegada do período chuvoso, uma vez que as leptospiras são resistentes a climas quentes e úmidos e sensíveis à luz solar direta (RIET-CORREA et al., 2007).

 

Anteriormente, o gênero Leptospira foi dividido em duas espécies, L. interrogans (abrangendo diversas sorovares patogênicas) e L. biflexa (que compreende variedades não patogênicas). Contudo, atualmente o gênero pode ser classificado em 35 espécies e mais de 250 sorovares, de acordo com características moleculares e sorológicas (JAMAS, 2020). Inseridos na espécie interrogans, encontram-se os dois sorovares de maior importância no caso dos bovinos: L. interrogans sorovar pomona (causadora de aborto e anemia hemolítica aguda) e L. interrogans sorovar hardjo (podendo provocar aborto, mastite e até mesmo infertilidade) (RIET-CORREA et al., 2007). É importante mencionar que pesquisas sorológicas também apontam a predominância de outros sorovares (L. wolfii, L. canicola, L. icterohemorragiae, L. grippotyphosa).

Transmissão

A transmissão da Leptospirose pode ocorrer de maneira indireta através do contato com água, alimentos e solos contaminados com a urina de animais doentes e de maneira direta por transmissão venérea ou por via transplacentária. Uma vez transmitida, a bactéria pode ser eliminada pela urina do animal contaminado por até um ano, fase conhecida como leptospirúria (RIET-CORREA et al., 2007). Dessa maneira, o agente infeccioso permanece no ambiente, infectando novos animais por um longo período.

Manifestações Clínicas

As manifestações clínicas da Leptospirose variam de acordo com sua apresentação. Ou seja, a forma aguda da doença compreende a fase de leptospiremia, pela qual há a multiplicação do agente no organismo, provocando febre alta, anorexia, icterícia, hemoglobinúria, abortamentos e queda na produção leiteira, sendo comum em jovens animais. Por outro lado, na forma subaguda ocorre febre moderada, icterícia leve, também queda na produção leiteira. E na forma crônica, o principal problema é a leptospirúria, além de ocorrerem manifestações reprodutivas, incluindo abortamento e retenção de placenta.

Cabe ressaltar que esta última manifestação (crônica) geralmente é ocasionada pelos sorovares hardjo e pomona, podendo acontecer abortos, nascimento de animais fracos, prematuros ou natimortos. A sorovar hardjo é responsável pela retenção de placenta e os abortamentos provocados por ela podem chegar a afetar até 10% do rebanho. Todavia, a frequência de abortos ocasionados pela sorovar pomona podem abranger até 50% do rebanho (RIET-CORREA et al., 2007).

Diagnóstico

Para o diagnóstico da Leptospirose em Bovinos pode ser feita a avaliação de alguns fatores epidemiológicos como: a queda na produtividade do rebanho somada a presença de muitos roedores no ambiente, especialmente em períodos mais chuvosos do ano e a ocorrência de manifestações clínicas (GUIMARÃES et al., 1982). Todavia, muitas vezes os sinais clínicos são comuns à outras infecções, não devendo ser analisados isoladamente.

A confirmação do diagnóstico pode ser obtida por métodos laboratoriais, sendo a soroaglutinação microscópica a prova considerada como referência pela Organização Mundial da Saúde para o diagnóstico em humanos e em animais (RIET-CORREA et al., 2007). Contudo, o teste pode resultar em falsos-positivos, caso realizado em animais previamente vacinados. Por fim, podem ser utilizados outros métodos (menos comuns) para o diagnóstico da Leptospirose, como: fixação de complemento, imunofluorescência indireta e ELISA.

Prevenção

Para controle e prevenção da Leptospirose Bovina é importante que seja feito o diagnóstico e tratamento de animais acometidos, o monitoramento dos roedores, o cuidado para evitar que os animais frequentem áreas alagadas que possam conter focos de contaminação, medidas de higiene e identificação de fontes de transmissão. Além disso, recomenda-se um programa de vacinação adequado como medida preventiva, sendo ideal a vacinação de bezerros entre 4 e 6 meses de vida, com reforços semestrais.

Tratamento

Conforme a literatura, recomenda-se o uso de Estreptomicina ou Dihidroestreptomicina para bezerros e bovinos adultos com a forma aguda, na dose de 12 mg/kg, duas vezes ao dia, por três dias. Já em casos de surtos de abortos pelo sorovar pomona ou a fim de eliminar leptospiras do rim de animais portadores é indicada uma única administração de estreptomicina na dose de 25 mg/kg. E em infecções pela sorovar hardjo tem sido considerado o aumento na dosagem de Dihidroestreptomicina ou de Estreptomicina, com atenção aos possíveis riscos de ações nefrotóxicas e ototóxicas do antibiótico (RIET-CORREA et al., 2007). Essa dosagem corresponde à 30 mg/kg, como indicado na literatura.

Você conhece o Prontostrep?

Prontostrep é um antimicrobiano da família dos aminoglicosídeos à base de Dihidroestreptomicina, que atua na eliminação do microrganismo através da interferência na síntese proteica. É indicado para o tratamento da Leptospirose em bovinos e equinos causada por diversos sorovares, incluindo as sorovares hardjo e pomona, além de abranger os sorovares Icterohaemorrhagiae, canicola, bratislava e tarassovi. Sua administração é por via intramuscular, em dose de 1 ml/10 kg de peso vivo, em dose única. Essa dosagem corresponde à 30 mg/kg, como indicado na literatura. O maior diferencial do produto é ser o único pronto para uso (PPU) do mercado, facilitando a aplicação e o manejo.

 

Texto: Juliana Ferreira Melo

Médica Veterinária – JA Saúde Animal

 

Referências

 

CNA. Pesquisa Pecuária Municipal 2020. Comunicado Técnico. 30ª ed. 2021. Disponível em: https://www.cnabrasil.org.br/assets/arquivos/boletins/Comunicado-Tecnico-CNA-ed-30_2021.pdf. Acesso em: 17 de fev. 2022.

 

GUIMARÃES, M. C.; CÔRTES, J.; VASCONCELLOS, S. A. & ITO, F. H. 1982. Epidemiologia e controle da leptospirose bovina. Importância do portador renal e do seu controle terapêutico. Comunicações Científicas da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de SãoPaulo,6/7, 1-4.

 

JAMAS, Leandro Temer; BARCELLOS, Rodrigo Rhoden; MENOZZI, Benedito Donizete; LANGONI Helio. Leptospirose Bovina. Vet. e Zootec. 2020; 27: 001-019

 

RIET-CORREA et al. Doenças de ruminantes e eqüinos. 3ªed. São Paulo: Editora Varela. 2007. 532p.

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