A Tristeza Parasitária Bovina (TPB) é um complexo de doenças que compreende duas enfermidades bem conhecidas: a Babesiose, causada pelos protozoários Babesia bigemina e Babesia bovis, e a Anaplasmose, causada pela Anaplasma marginale. Ambas doenças são responsáveis por grandes prejuízos econômicos como mortalidade no rebanho, queda da produção de leite, diminuição do ganho de peso, além de gastos com controle e profilaxia. A transmissão da Babesiose e Anaplasmose bovina ocorre biologicamente pelo carrapato Rhipichephalus microplus e mecanicamente, na anaplasmose, por insetos hematófagos e fômites contaminados (ALMEIDA et al., 2006; GUEDES JÚNIOR et al., 2008).
Ainda que a Babesia e o Anaplasma sejam parasitas da mesma célula sanguínea e, em inúmeras ocasiões, possam apresentar infecções concomitantes com sintomatologia semelhante, sendo descritas simplesmente como Tristeza Parasitária, é importante ressaltar que são doenças diferentes.
O território brasileiro é uma área de estabilidade enzoótica para a Babesiose, onde os bovinos se encontram naturalmente imunizados contra a Babesia, ou seja, há um equilíbrio entre imunidade e doença. Em locais onde as condições climáticas permitem a presença do carrapato durante praticamente todo o ano, os agentes da TPB são continuamente inoculados nos animais a partir do nascimento, quando são mais resistentes, permitindo que estes não adoeçam e desenvolvam uma imunidade específica forte, o que os tornará adultos resistentes (KESSLER et al., 1983).
A infecção é causada pelo desenvolvimento e multiplicação de babesias e anaplasmas nas células sanguíneas (Babesiose e/ou Anaplasmose, respectivamente) e tem como sinais clínicos febre, anemia, icterícia (coloração amarelada de pele e mucosas), hemoglobinúria (urina avermelhada ou marrom), parada ou redução da ruminação, sintomatologia nervosa, anorexia e prostração (TOKARNIA & DÖBEREINER, 1962; KESSLER et al., 1992).
Alguns fatores influenciam a susceptibilidade dos animais às hemoparasitoses, destacando-se a maior sensibilidade dos taurinos frente aos carrapatos e, assim, às hemoparasitoses, enquanto que o gado zebu é naturalmente mais resistente. Muitas vezes os animais jovens são mais resistentes do que os adultos, adquirindo essa resistência principalmente pela presença de anticorpos adquiridos pela colostragem, desenvolvendo assim sua imunidade ativa sem sofrer a doença clínica.
O diagnóstico da Babesiose e Anaplasmose bovina pode ser realizado com base nos sinais clínicos e na visualização dos parasitos no interior das hemácias em esfregaços sanguíneos e, para uma melhor realização do exame, deve-se preparar a lâmina a partir de sangue coletado dos capilares periféricos. Também devem ser levados em conta os dados epidemiológicos e achados de necropsia.
Para a Babesiose, o tratamento consiste em destruir os protozoários (B. bovis e B. bigemina) no paciente, sendo recomendado fármacos a base de Diminazeno. Quanto a Anaplasmose, recomenda-se utilização de antibióticos eficazes no combate do Anaplasma marginale. A J.A Saúde Animal sugere protocolo para o combate da TPB composto por Ganavet (Diminazeno e Fenazona) + Diclotril (Cloridrato de Enrofloxacino e Diclofenaco de Sódio), juntamente com o Catofós (Fósforo Orgânico + Vitamina B12), como terapia de suporte. Animais tratados com esse protocolo no Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí, instituição da qual a J.A. Saúde Animal é parceira, tiveram desempenho satisfatório e ao final do tratamento estavam sem sinais clínicos, evidenciando a eficácia do tratamento (Figura 1).
Autores:
Marcela Dutra Fernandes (Graduanda do Curso de Medicina Veterinária)
Hugo Jayme Mathias Coelho Peron (Professor do Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí)
Referências:
ALMEIDA, M. B.; TORTELLI, F. P.; RIET-CORREA, B.; FERREIRA, J. L. M., SOARES, M. P.; FARIAS, N. A. R.; RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L. Tristeza parasitária bovina na região sul do Rio Grande do Sul: estudo retrospectivo de 1978-2005. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 26, n. 4, p. 237-242, 2006.
GUEDES JUNIOR, D. S.; ARAÚJO, F. R.; SILVA, F. J. M.; RANGEL, C. P.; BARBOSA NETO, J. D.; FONSECA, A. H. Frequency of antibodies to Babesia bigemina, B. bovis, Anaplasma marginale, Trypanosoma vivax and Borrelia burgdorferi in cattle from the Northeastern region of the State of Pará, Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 17, n. 2, p. 105-109, 2008.
KESSLER, R.H., MADRUGA, C.R., SHENCK, M.A.M., et al. Babesiose cerebral por Babesia bovis (Babes, 1888, Starcovici, 1983) em bezerros do estado do Mato Grosso do Sul. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 22, p. 1225-1230, 1983.
KESSLER R.H., SCHENK M.A.M., MADRUGA C.R., SACCO A.M.S. & MIGUITA M. Tristeza parasitária dos bovinos (TPB), p. 1-30. In: Charles T.P. & Furlong J. (ed.) Doenças Parasitárias dos Bovinos de Leite. Embrapa CNPGL, Coronel Pacheco, MG, 1992.
TOKARNIA, C.H., DÖBEREINER, J. A importância da anaplasmose em nossos bezerros e as medidas de seu controle. Veterinária, v.15, n.3-4, p.11-19, 1962.