Tétano em bovinos

Tétano em bovinos

O tétano é uma doença neurológica infecciosa, não contagiosa, causada pelas toxinas produzidas pelo Clostridium tetani, bactéria anaeróbia, formadora de esporos e Gram-positiva. Possui distribuição mundial, é uma doença altamente letal, e todas as espécies de animais são suscetíveis, porém os equinos são os mais sensíveis (Smith, 2006).

O C. tetani está presente no ambiente, em matéria orgânica, principalmente em conteúdos fecais de herbívoros. A doença ocorre quando feridas presentes nos animais são infectadas com esporos do agente, que em situação de anaerobiose, germinam, multiplicam e produzem toxinas.

O período de incubação varia de 7 a 21 dias para a maioria das espécies suscetíveis (Tortora 2000). Em bovinos, no entanto, o período de incubação pode variar de 18 horas a quatro semanas (Barros et al. 2006). Os sinais clínicos iniciam em geral em 7 a 15 dias após a infecção do animal (Barros et al. 2006). O peródo de incubação é variável pois depende das dimensões da ferida, do potencial de oxidação no tecido contaminado, do número de bactérias inoculadas e da titulação de antitoxinas do hospedeiro. Durante as primeiras 24h os ruminantes podem apresentar timpanismo, seguido de rigidez e claudicação do membro infectado, que estão relacionadas ao efeito local da toxina absorvida. Espasticidade generalizada é evidenciada em aproximadamente 24h. Os animais apresentam deambulação rígida e uma postura de extensão da cabeça. Ocorre hipertonia e os membros são mantidos em uma postura característica, que lembra as pernas de um cavalete (postura de cavalete) (Smith, 2006). A doença evolui para trismo mandibular, marcha trôpega, dispneia, dificuldade de deglutição, hiperestesia, fotosensibilidade, prolapso de terceira pálpebra, orelhas eretas, rigidez do pescoço, sudorese, cauda elevada (cauda em bandeira), decúbito permanente e opistótono (Barbosa et al. 2009). A morte geralmente ocorre por asfixia após a paralisia dos músculos respiratórios (Silva et. al., 2010).

O diagnóstico do tétano geralmente é baseado nos sinais clínicos característicos e no histórico de trauma, tosquia, castração ou qualquer outro manejo que possa gerar uma porta de entrada para o agente (Silva et. al., 2010). Nos exames laboratoriais enzimas musculares como a Creatina Quinase (CK) podem estar elevadas devido a lesões musculares causadas pelo decúbito. Não existem testes clínicos-patológicos úteis confiáveis para a confirmação de um diagnóstico de tétano. Devem ser feitas tentativas de isolamento do C. tetani, como o material colhido no suposto local de penetração da bactéria (Smith, 2006).

A ocorrência desta enfermidade em geral é esporádica, mas surtos têm ocorrido em bovinos após práticas zootécnicas como, por exemplo, aplicação de vermífugos ou vacinas (Dutra et al., 2001; Quevedo et al., 2011) com o uso de equipamentos não devidamente higienizados ou através da contaminação da pele por poeira ou lama durante tais práticas (Dutra et al. 2001). Entretanto, existem relatos de surtos de tétano em bovinos em que nenhuma ferida foi observada, sendo denominado “tétano idiopático”. O corte e cura de umbigo feito sem uma assepsia adequada também servem de porta de entrada para os esporos, ocasionando o tétano neonatal, assim como retenção de placenta após parto distócico feito sem assepsia pode ocasionar o tétano puerperal (Bizzini, 1993).

O tratamento baseia-se na eliminação da infecção com uso de antibiótico, administração de relaxante muscular, manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico e nutricional, tratamento do foco da infecção e anulação da toxina residual. A antibioticoterapia mais utilizada é a administração parenteral de Penicilina G Potássica (22.000 UI/kg, IV, 3 a 4 vezes ao dia) e a Penicilina G Procaína (22.000 UI/kg, IM, 1 a 2 vezes por dia) (Smith, 2006). A neutralização das toxinas ainda é um assunto controverso, especialmente com relação à dosagem e a via de administração da antitoxina tetânica (TAT). O curso clínico e o prognóstico dependem do estado imunológico do animal e da vacinação prévia, da dose de inoculação da toxina e da duração e disponibilidade de tratamento (Lobato et al., 2007).

A sugestão da JA Saúde Animal para o tratamento do tétano em bovinos é a aplicação de Gentopen 20 milhões, uma associação sinérgica de Penicilina Potássica altamente concentrada + Gentamicina, sendo a única Penicilina endovenosa disponível no mercado. Como segunda opção a aplicação intramuscular de Vetipen PPU, uma associação de Penicilina Procaína + Penicilina Benzatina + Estreptomicina. Como tratamento suporte, sugerimos também aplicação de Flumax, um potente anti-inflamatório não esteroidal a base de Flunixin Meglumine, que vai agir como analgésico e anti-inflamatório na dor causada pela miosite, antipirético em casos que o animal apresente hipertermia, e ainda com ação antiendotoxêmica. Para a manutenção da hidratação, indica-se administrar Hidralac, hidratante oral para animais jovens que corrige a desidratação e desequilíbrios eletrolíticos e ácido-base. Além disso, deve-se administrar soro antitetânico, relaxante muscular e tomar alguns cuidados de enfermagem com o animal, como mantê-lo em cama macia e um lugar preferencialmente escuro e calmo, com água e comida disponível e constante troca de decúbito, caso o animal se encontre em decúbito permanente.

 

Autores:

M.V. Hanna C. Prochno
Médica Veterinário – JA Saúde Animal

M.V. Eduardo de Castro Rezende
Médico Veterinário – JA Saúde Animal

 Prof. Dr. José Abdo Andrade Hellu
Médico Veterinário e Fundador da JA Saúde Animal

 

Referências bibliográficas

BARBOSA J.D., DUTRA M.D., OLIVEIRA C.M.C., SILVEIRA J.A.S., ALBERNAZ T.T. & CERQUEIRA V.D. [Outbreak of tetanus in bufalloes (Buballus bubalis) in Pará, Brazil.] Surto de tétano em búfalos (Buballus bubalis) no Estado do Pará. Pesq. Vet. Bras. 29(3):263-266. 2009.

BARROS C.S.L., DRIEMEIER D., DUTRA I.S. & LEMOS R.A.A. Doenças do Sistema Nervoso de Bovinos no Brasil. AGNS Gráfica e Editora, São Paulo. 207p. 2006. 

BIZZINI, B. Clostridium tetani. In: GYLES, C.L.; THOEN, C.O. (Eds). Pathogenesis of Bacterial Infections in Animals. 2ed. Ames: Iowa University Press, p.97-105. 1993.

DUTRA I.S., FERREIRA R.M.M., MINGOTI G.Z. & DÖBEREINER J. Surto de tétano em bovinos de corte após aplicação de vermífugo e vacina. 8º Congresso Brasileiro de Buiatria, Campo Grande, MS, p.46. 2001.

LOBATO F.C.F., SALVARANI F.M. & ASSIS R.A. Clostridioses dos pequenos ruminantes. Revta Port. Ciênc. Vet. 102(561/562):23-34. 2007.

QUEVEDO, P.S.; LADEIRA, S.R.L.; SOARES, M.P.; MARCOLONGO-PEREIRA, C.; SALLIS, E.S.V.; GRECCO, F.B.; ESTIMA-SILVA, P.; SCHILD, A.L. Tétano em bovinos no sul do Rio Grande do Sul: estudo de 24 surtos. Pesq. Vet. Bras. v.31, n.12, 2011.

RAPOSO J.B. Tétano, p.425-432. In: RIET-CORREA F., SCHILD A.L., LEMOS R.A.A. & BORGES J.R.J. (Eds.), Doenças de Ruminantes e Equídeos. Vol.1. 3ª ed. Pallotti, Santa Maria. 719p. 2007.

SILVA, A.A.; STELMANN, U.J.P.; PAPA, J.P.; FONSECA, E.P.F.; IGNÁCIO, F.S. Uso de antitoxina tetânica por via intratecal e endovenosa no tratamento de tétano acidental em equino: Relato de caso. Rev. Cient. Eletr. Med. Vet., n. 14, 2010.

SMITH, M. O. Doenças do sistema nervoso. In: SMITH, B.P. Tratado de medicina interna de grandes animais. 3.ed. São Paulo: Editora Manole, 995-996p. 2006.

TORTORA G.J., FUNKE B.R. & CASE C.L. Microbiologia (Tradução). 6ª ed. Editora Artmed, Porto Alegre, pp.584-585. 2000.

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