Uso da Xilazina e Detomidina em protocolos anestésicos de muares

Introdução

Os agonistas do receptor alfa-2 adrenérgico são fármacos amplamente utilizados para promover a sedação, analgesia e relaxamento muscular em animais, sejam eles de pequeno ou grande porte. Nesse grupo de medicamentos destacam-se a Xilazina e a Detomidina (LUMB; JONES, 2017).

A Xilazina, sintetizada em 1962 na Alemanha, é um medicamento com ação tranquilizante. É o fármaco mais antigo da classe dos agonistas do receptor alfa-2 adrenérgicos e pode ser classificada como sedativo hipnótico, possuindo adicionalmente as propriedades de analgesia e relaxamento muscular (SPINOSA, 2011).

A Detomidina é bastante utilizada na contenção química dos animais por conta de também possuir efeito tranquilizante, o que facilita procedimentos clínicos, diagnósticos e pré-anestésicos (SPINOSA, 2011). Nesse contexto dos agonistas alfa-2 adrenérgicos, abordaremos especificamente informações bibliográficas sobre os feitos da Xilazina e da Detomidina em muares.

O que são muares?

Muares são animais híbridos oriundos do cruzamento entre jumentos (Equus asinus) e éguas (Equus caballus), pelos quais são absorvidas as melhores características de cada espécie (VERNEQUE et al., 2020). São considerados mais rústicos, apresentando melhor desempenho em atividades de sela, no trabalho e na tração (COSTA; PACHECO, 2016). Alguns autores destacam que eles são menos susceptíveis aos ecto e endoparasitos e são mais resistentes a enfermidades (MIRANDA; PALHARES, 2017; PESSOA et al. 2014).

Em contrapartida, são considerados mais difíceis de serem manipulados por se agitarem em procedimentos simples. Sendo assim, geralmente são necessárias doses maiores de medicações em comparação aos equinos (MENEZES et al., 2013). Também apresentam diferenças no balanço eletrolítico, nas respostas às injúrias, na metabolização das drogas, nas frequências cardíacas e respiratórias, na temperatura corpórea e em outros fatores (BURNHAN, 2002; HENZE et al., 2011).

Ação dos alfa-2 agonistas nos muares

Sobre a ação dos alfa-2 agonistas nos muares ainda não existem muitos trabalhos voltados para a temática, porém sabe-se que esses animais necessitam de aproximadamente 50% a mais de Xilazina (1,6 mg/kg IV) ou Detomidina (0,03 mg/kg IV) para alcançar uma sedação eficaz, em comparação com os equinos (MATTHEWS; TAYLOR, 2002).

Um estudo realizado por Latzel (2012) comparou a farmacocinética e farmacodinâmica de uma única dose de 0,6 mg/kg, por via intravenosa em muares e cavalos, concluindo que a meia-vida da eliminação da Xilazina é inferior em muares em comparação com cavalos, além disso, essa dose (0,6 mg/kg) de Xilazina por via intravenosa produz nos muares uma sedação menos intensa e insatisfatória para tratamentos dentários, por exemplo (LATZEL, 2012 apud MÓDOLO, 2018).

No caso da Detomidina, assim como na Xilazina, também se recomenda a administração de doses 50% maiores em muares do que as administradas em equinos (MATTHEWS; TAYLOR, 2000). Contudo, a Detomidina produz uma sedação e uma analgesia mais intensa e duradoura, sendo em média 80 a 100 vezes mais potente do que a Xilazina, com duração dose dependente (LENKE, 2013), o que a torna mais eficaz nos muares.

A Detomidina (ainda em comparação com a Xilazina) apresenta efeitos analgésicos, sedativos e hipnóticos mais completos, o que permite maior segurança em procedimentos cirúrgicos e terapêuticos realizados na espécie equina no geral. Além disso, é perceptível uma menor bradicardia em equinos com o uso da Xilazina, em comparação com o uso da Detomidina (BRAGA, 2012).

Vale destacar também que a Detomidina é altamente lipofílica, absorvida rapidamente pela via intramuscular e possui grande afinidade pelo sistema nervoso central, o que permite que ela seja considerada mais potente do que a Xilazina (ROSA, 2014).

Considerações Finais

Os efeitos dos medicamentos anestésicos em muares, especificamente dos agonistas do receptor alfa-2 adrenérgicos, incluindo a Xilazina e a Detomidina ainda são pouco evidenciados em estudos. Sabe-se que os muares são animais semelhantes (fisiologicamente) aos equinos, porém apresentam algumas especificidades como maior resistência e consequentemente necessidade de maiores doses de fármacos.

Nesse sentido, alguns autores mencionam que a Detomidina produz sedação e analgesia mais eficaz e prolongada, o que a torna muito mais potente do que a Xilazina. Desta forma, levando em consideração as características dos muares e tais informações, conclui-se que o uso da Detomidina é mais viável do que o uso da Xilazina em muares, tornando os procedimentos mais seguros e eficazes.

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Texto:

Juliana Ferreira Melo (Médica Veterinária / Jornalista)

Matheus dos Santos Oliveira (Médico Veterinário)

 

Referências

BRAGA, S. M. Uso de fármacos agonistas dos receptores α-2 adrenérgicos em medicina veterinária. 2012. 27 f. Seminário (Seminários Aplicados do Curso de Pós-graduação em Ciência Animal) – Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2012.

 

BURNHAN, S.L. Anatomical differences of the donkey and mule. Proceedings of

the 48th Annual AAEP Convention, p.102-109, 2002.

 

LUMB & JONES | Anestesiologia e analgesia em veterinária / Kurt A. Grimm… [et al.]; Revisão técnica Flavio Massone; Tradução Idilia Vanzellotti, Patricia Lydie Voeux, Roberto Thiesen. – 5. ed. – Rio de Janeiro:Editora Roca, 2017.

 

HENZE, A.; AUMER, F.; GRABNER, A.; RAIL, J.; SCHWEIGERT, F.J. Genetic differences in the serum proteome of horses, donkeys and mules are detectable by protein profiling. British Journal of Nutrition, v. 106, p.170-173, 2011

 

MATTEUWS, N.S.; TAYLOR, T. Anesthesia of Donkeys and Mules: How They Differ from Horses, 2002. Disponível em: <http:/www.ivis.og>. Acesso em: 01 jul 2013.

 

MENEZES, M. L.; MOREIRA, C. G.; SCHMIDT, B. L. U.; BRANDI, L. A.; IANNI, A. C.; CANCIAN, P. H.; LIMA, M. C. Particularities of the mule: a review. Brazilian Journal of Equine Medicine, v. 47, p. 16–20, 2013.

 

MASSONE, Flavio. Anestesiologia veterinária: farmacologia e técnicas: texto e atlas colorido. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2011. Acesso em: 29 jul. 2022.

 

MÓDULO, Tiago José Caparica. Avaliação da sedação e dos efeitos cardiorrespiratórios de duas doses de Detomidina em muares. 2018. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2018.

 

ROSA, A. C. A farmacocinética e os efeitos sedativos e comportamentais dos cloridratos de xilazina e de detomidina, administrados por diferentes vias, em asininos Nordestinos (Equus asinus). 2014. 117 f. Tese (Doutorado em Anestesiologia) – Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2014.

 

SPINOSA, Helenice de Souza e GÓRNIAK, Silvana Lima e BERNARDI, Maria Martha. Farmacologia aplicada à medicina veterinária. . Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. . Acesso em: 29 jul. 2022. , 2011

 

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