Este artigo, aborda a hipocalcemia bovina, uma doença puerperal que acomete os rebanhos leiteiros, causando grandes prejuízos devido a quedas na produção. Nosso foco será principalmente nas medidas de prevenção e tratamento, oferecendo estratégias práticas para mitigar os impactos desta condição.
Introdução
Vacas altamente produtivas são mais suscetíveis a doenças metabólicas devido à necessidade de um elevado aporte nutricional, mineral, proteico e energético. Elas consomem, metabolizam e perdem nutrientes em grande quantidade, principalmente com o início da lactação. Quando há um desequilíbrio entre a ingestão, o metabolismo e a perda de minerais, proteínas e energia, surgem doenças de origem metabólica, como a hipocalcemia (CORBELLINI, 2000 apud ALBORNOZ et al., 2016).
A hipocalcemia se caracteriza pela redução dos níveis de cálcio circulantes na corrente sanguínea de vacas no período periparturiente. Então, fica evidente que a doença provoca grandes prejuízos na pecuária leiteira, pois causa queda na produção de leite já no início da lactação, reduzindo a produtividade do plantel. A doença também está associada com predisposição racial (Jersey), idade avançada e quantidade de partos (ORTOLANI, 2009; FABRIS et al., 2021).
Além disso, vale observar que a doença pode se apresentar de forma clínica, com sintomas evidentes, ou subclínica, em que não há sinais clínicos aparentes, mas os animais apresentam uma redução significativa na produção de leite ao longo da lactação (FABRIS et al., 2021). Desse modo, as vacas acometidas por hipocalcemia reduzem o consumo de matéria seca e concentrados, tornando-se mais propensas a desenvolver outras doenças, como acidose ruminal, mastites, retenção de placenta, metrite, deslocamento de abomaso, entre outras (SILVEIRA et al., 2009).
Durante o período de transição, ocorrem modificações fisiológicas, anatômicas e hormonais no organismo da vaca, preparando-a para o parto, a lactação e o retorno à ciclicidade ovariana e, nesse mesmo período, ocorrem alterações metabólicas. Mesmo os animais com uma alimentação balanceada podem ser afetados, enquanto vacas alimentadas com dietas deficientes em minerais, proteínas e energia são ainda mais propensas a desenvolver a hipocalcemia, devido ao déficit nutricional que impede a compensação das perdas e dos gastos energéticos durante o anteparto e puerpério (ALBORNOZ et al., 2016; FABRIS et al., 2021).
Geralmente, a hipocalcemia se manifesta nas primeiras 48 horas após o parto, quando os níveis de cálcio no sangue estão relativamente baixos devido à grande demanda do mineral para a produção de colostro e para o parto (GOOF, 2008; FABRIS et al., 2021). Ainda ressalta-se que, a maior concentração de cálcio presente no organismo é nos ossos e outra pequena parte se concentra nos tecidos. O cálcio participa de muitas funções vitais, sendo muito importante na contração muscular (expulsão do feto e anexos), condução nervosa, coagulação sanguínea, mineralização óssea, atividade enzimática, produção de colostro e do leite (BERCHIELLI et al., 2006; GOOF, 2009).
Em virtude disso, a sintomatologia da doença se caracteriza por tremores musculares, excitação, mugidos, dispneia, taquicardia, depressão e anorexia. A vaca frequentemente não consegue se manter em pé, ficando em decúbito com a cabeça voltada para o flanco. Em casos graves, os animais podem entrar em estado comatoso e evoluir para óbito. Devido a esses sinais clínicos, a doença é popularmente conhecida como síndrome da vaca caída, febre do leite ou tetania puerperal (RADOSTITS et al., 2007 apud ORTOLANI, 2009). Sendo assim, o diagnóstico da hipocalcemia é realizado através do histórico de parto e dos sinais clínicos do animal, também é possível dosar os níveis de cálcio circulante (FABRIS et al., 2021).
Torna-se imperativo a prevenção da doença, que é possível através da adoção de um bom manejo nutricional no período seco e na fase de transição, priorizando a manutenção do escore corporal das vacas. Além disso, uma boa opção é a utilização de dietas aniônicas para estimular a produção de cálcio pelo próprio organismo da vaca (com monitoramento da acidificação do pH urinário) e no pós-parto fornecer soluções (Drench) contendo minerais e fontes de energia para reposição de água e eletrólitos do animal (ORTOLANI, 2009; FABRIS et al., 2021).
Tratamento
O tratamento tem como base a administração de cálcio via endovenosa (RADOSTITS et al., 2002) e deve ser realizado o quanto antes, assim que forem observados os primeiros sinais de hipocalcemia, para que o animal tenha maiores chances de se recuperar. A JA Saúde Animal® apresenta duas opções de tratamento, o Turbo Cálcio® e o Calfomag®, ambos são soluções injetáveis para reposição mineral e energética. O Turbo Cálcio® e o Calfomag®, são produtos compostos por minerais essenciais ao metabolismo como o cálcio, fósforo e magnésio. Esses minerais são fundamentais para os ossos, contração muscular, desenvolvimento do feto e produção de leite. No pós-parto, é comum as vacas apresentarem deficiência de cálcio o que ocasiona carência de magnésio e fósforo; causando hipocalcemia, retenção de placenta e imunidade baixa.
O Turbo Cálcio® contêm sorbitol na sua formulação, sendo considerado como uma boa fonte de energia para a recuperação do animal. Ele também possui metionina na composição, um aminoácido que apresenta ação hepática e que auxilia na eliminação de toxinas presentes no organismo; vitamina B1 que atua estimulando o apetite e funcionamento dos músculos e sistema nervoso. Já o Calfomag® é rico em dextrose 20%, que fornece energia necessária para a recuperação das vacas, além desse ativo, conta com a cafeína que proporciona uma ação estimulante. O repositor mineral e energético deve ser administrado via intravenosa e de forma lenta, na dose 1 grama para cada 5 Kg de peso vivo, ou seja, 1 mL da solução para cada 10 Kg de peso corpóreo. Assim para uma vaca de 500 Kg deve-se administrar 500 mL de Turbo Cálcio® ou Calfomag®.
Como opção de fornecimento de eletrólitos via oral, recomendamos o Drench JA®, um suplemento mineral, energético, hidratante e probiótico. Rico em Propionato de Cálcio que atua como precursor da glicose e fonte de reposição mineral e de eletrólitos, impedindo que a vaca fique desidratada. Ele também auxilia no tratamento da hipocalcemia, na retenção de placenta e no fechamento do esfíncter do teto, isso se deve ao fato do alto nível de cálcio auxiliar na contração muscular. O Drench JA® também é fonte de leveduras vivas que apresentam ação probiótica no rúmen, estimulando o crescimento de microrganismos benéficos ao ambiente ruminal, impedindo a acidose e parada dos movimentos ruminais. O produto deve ser administrado via sonda esofágica por profissional treinado, visto que não é palatável, devido a sua alta concentração de propionato de cálcio. Portanto deve-se dissolver 1 kg de Drench JA® em 30 litros de água morna e administrar via oral.
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Texto: Aline M. Carvalho (Médica Veterinária)
BIBLIOGRAFIA
ALBORNOZ, L., ALBORNOZ, J. P., MORALES, M., FIDALGO, L. E. Hipocalcemia puerperal bovina. Revisión. Veterinaria (Montevideo), 52, n.201, p. 4-4. 2016.
BERCHIELLI, T. T., PIRES, A. V., OLIVEIRA, S. G. D. Nutrição de ruminantes. Jaboticabal: Funep, 2006.
FABRIS, H. L., MARCHIORO, J., RAMELLA, L. C. D. K. Aspectos epidemiológicos, clínicos, patológicos, diagnóstico, profilaxia e tratamento da hipocalcemia em bovinos: Revisão. Pubvet, [S. l.], v. 15, n. 02, 2021. DOI: 10.31533/pubvet.v15n02a758.1-10.
GOFF, J. P. The Monitoring, Prevention, And Treatment Of Milk Fever And Subclinical Hypocalcemia In Dairy Cows. The Veterinary Journal, 176, n. 1, p. 50–57. 2008.
GOFF, J. P., KIMURA, K. Interação entre doenças metabólicas e o sistema imune. Anais 13º Curso novos enfoques na produção e reprodução de bovinos, Uberlândia, MG, pp.251-260. 2009.
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RADOSTITS, O. M., GAY, C. C., BLOOD, D. C. HINCHCLIFF, K.W. Clínica Veterinária: um tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suinos, caprinos e equinos, 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2002.
RADOSTITS, O. M.; GAY, C. C; BLOOD, D. C.; CONSTABLE, J. H. Veterinary Medicine: A textbook of the diseases of cattle, sheep pigs and horses. Elsevier Science Health Division, 10th edition, Edinburgh, 1877 p. 2007.
SILVEIRA, P. A., FENSTERSEIFER, S., PEREIRA, R. A., SCHNEIDER, A., BIANCHI, I., CORRÊA, M. N. Impacto econômico das doenças do periparto de vacas leiteiras. Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão Em Pecuária (NUPEEC). 2009.